Sinal de alerta em bens de consumo

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A perspectiva de que o câmbio permaneça em patamar estável em 2007 (em torno de R$ 2,25) torna factível a tendência de crescimento das importações de bens de consumo como alternativa à produção local. O aumento de 42,6% – superior aos 25,2% das importações gerais – nas compras externas desse tipo de bem em 2006 é considerado um alerta por alguns especialistas, embora em valor a participação dessa categoria nas importações nacionais ainda seja de apenas 13,1%.

A perspectiva de que o câmbio permaneça em patamar estável em 2007 (em torno de R$ 2,25) torna factível a tendência de crescimento das importações de bens de consumo como alternativa à produção local. O aumento de 42,6% – superior aos 25,2% das importações gerais – nas compras externas desse tipo de bem em 2006 é considerado um alerta por alguns especialistas, embora em valor a participação dessa categoria nas importações nacionais ainda seja de apenas 13,1%. No caso dos bens de consumo duráveis, como automóveis e produtos de linha branca, a alta foi de 56%, contra 31% dos não-duráveis, compostos por itens como alimentos e produtos têxteis.


O vice-presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, destaca que não se via um movimento semelhante desde 1997, quando o Brasil teve recorde de importações impulsionado pelo Plano Real. “A taxa de câmbio atual já estimula as importações desses produtos, mas isso se soma também ao fator China, país que oferece produtos a preços muito mais atraentes para o empresário. Indiretamente há um desestímulo à produção”, observa. Em 2006 o Brasil importou US$ 7,989 bilhões em produtos chineses, um crescimento de 49,2% sobre o ano anterior.


Entre os bens de consumo duráveis, um dos destaques foi o item Máquinas e Aparelhos de Uso Doméstico – entre outros, ferros elétricos, sanduicheiras e torradeiras – com importação de R$ 1,205 bilhão, 60,33% até novembro, alta de 60,33% sobre 2005. A compra de objetos de adorno pessoal, as bijuterias, foram 24,68% superiores, totalizando R$ 1,271 bilhão.


depuradores de ar


A fabricante nacional de depuradores de ar Suggar começou a optar por fornecedores chineses no fim de 2005. O movimento se intensificou no meio do ano passado e hoje a empresa traz da China cerca de um terço de sua produção anual. São 19 itens entre torradeiras, ferros elétricos, sanduicheiras, fornos elétricos, máquinas de gelo, adegas climatizadas e coifas. Segundo o diretor-presidente da empresa, Lúcio Costa, os produtos importados chegam a ser 30% mais baratos. “A China vai vencer o capitalismo com as armas do próprio capitalismo: mão-de-obra barata, preço baixo, lei da oferta e da demanda”, diz.


Costa diz que é graças a mudança de estratégia que a Suggar conseguiu fechar 2006 com faturamento de R$ 246 milhões, 14% superior ao de 2005. A tendência em 2007 é importar cada vez mais. “Queremos trazer produtos que não fabricamos, como chapinhas de cabelo, e tentar ganhar mercado de concorrentes com nossa marca”, enfatiza Costa. Ele diz que, em princípio, a Suggar continuará produzindo no Brasil produtos de grande porte como máquinas de lavar roupa (tipo tanque), fogões e a maior parte das coifas, cuja importação compensa menos em função do preço do frete. “Não queremos mexer na produção. Cheguei a cogitar a demissão de 104 funcionários dos 900, mas por enquanto conseguimos realocá-los”, diz. Por enquanto se pode falar ainda em desindustrialização por não se tratar de algo generalizado. O fato do câmbio ser flutuante acaba sendo um freio porque as empresas temem adotar essa estratégia de importação e esbarrar em uma desvalorização cambial. Mas em 2007 muitos ainda vão buscar fornecedores chineses como alternativa”, prevê Castro. No caso da Suggar, a estratégia de importação tem como limite um câmbio de R$ 2,60.


automóveis


O maior salto nas importações de duráveis foi verificado no setor de automóveis, em que a receita de importação de veículos subiu 135,7% no ano passado. O valor correspondente a essa importação ainda é pouco significativo (R$ 1,915 milhão), mas o aumento das vendas de automóveis importados somada à redução de estoques das montadoras já se refletiram no desempenho aquém do esperado da produção de veículos em dezembro (queda de 6% ante o mês anterior, em termos dessazonalizados), aponta a Tendências Consultoria. De acordo com os dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) referentes a dezembro, a participação das vendas de automóveis importados apresentou alta, de 11% para 11,2%. Na média de janeiro a outubro, a proporção dos importados sobre o total vendido foi de 6,6%.


“De certa forma isso é uma decorrência normal do acordo automotivo Brasil-Argentina”, ameniza Castro. O especialista em comércio exterior, entretanto, já demonstra preocupação com o desenvolvimento da indústria automobilística chinesa, que promete entrar no país com compactos populares de fabricantes como Chery e KK.


Os números da produção industrial ainda não refletem um impacto da evolução das importações. No acumulado de janeiro a novembro de 2006 (último dado do IBGE) os bens de consumo duráveis foram a categoria de maior dinamismo, com alta de 7,3% na produção. Já os bens de consumo semi e não-duráveis tiveram desempenho próximo ao da produção geral, com crescimento de 2,9%.


Para o economista da coordenação de indústria do IBGE André Macedo, ainda não se pode falar em perdas para a produção nacional de bens de consumo, mas é preciso ficar atento ao desempenho dos duráveis na margem, onde nos últimos meses têm se verificado piora. No mês de novembro, os segmentos de bens de consumo apresentaram queda sobre outubro, tanto nos duráveis (-0,1%) como nos semi e não-duráveis (-0,6%). Ele destaca que, pelos dados da balança comercial, as importações de duráveis foram as que mais cresceram em quantum (volume) em 2006: 76%.


linha marrom “Até agora a produção da linha marrom (TV, rádio e som) é que tem sofrido com a concorrência dos importados. Na comparação com novembro de 2005 ela cresceu apenas 0,9% e nos últimos meses vem apresentando resultados cada vez mais modestos. O crescimento de 12,7% no acumulado de 2006 ficou concentrado no início do ano, quando houve forte demanda decorrente da Copa do Mundo”, afirma.


Na avaliação de Edgard Pereira, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) a grande preocupação é que esta tendência está se configurando em uma mudança estrutural da indústria brasileira. “O pior efeito da importação do produto final é a redução da demanda por bens intermediários produzidos no mercado interno. Esses bens estão no meio da cadeia e afetar sua produção significa atrofiar o crescimento industrial.”


O ex-presidente do Banco Central e atual diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, diz que a entrada dos importados se refletirá inclusive nos preços em 2007. Dentro da estimativa de inflação de 3,7% no ano, a CNC prevê que os duráveis terão a menor elevação de preços, 2,4%. “Não haverá tanta pressão sobre a oferta interna este ano pelo arrefecimento de crédito e menor aumento real de salários, o que se soma ao menor preço dos importados.”


 


 


 

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