Lucro maior com calote menor

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Os bancos só vão divulgar os resultados de 2006 a partir de fevereiro, mas os analistas já estão de olho no desempenho deste ano. A expectativa de queda da inadimplência combinada com o forte expansão do crédito alimenta previsões otimistas.



Os bancos só vão divulgar os resultados de 2006 a partir de fevereiro, mas os analistas já estão de olho no desempenho deste ano. A expectativa de queda da inadimplência combinada com o forte expansão do crédito alimenta previsões otimistas. O banco de investimento americano Merrill Lynch divulgou relatório prevendo um aumento nos ganhos recorrentes dos bancos de 23% neste ano. 


Se o número se confirmar será praticamente o dobro do aumento de 12% do lucro líquido recorrente que registraram os bancos brasileiros acompanhados pela Merrill Lynch em 2006, quando houve uma forte desaceleração em comparação com 2005, quando os resultados saltaram 46%. 


Na avaliação dos analistas da Merrill Lynch, os principais bancos brasileiros aumentaram timidamente os ganhos recorrentes em 2006 por causa do reforço das provisões, dos custos operacionais e da maior competição. 


A desaceleração citada é visível mesmo nos dados globais, sem distinção do que é recorrente. De acordo com os dados do Banco Central (BC), os 50 maiores bancos tiveram em 2006 até setembro um lucro líquido de R$ 23,393 bilhões. O resultado é 21,2% superior aos R$ 19,287 bilhões obtidos nos nove primeiros meses de 2005 que, por sua vez, mostravam um salto de 39,9% sobre os R$ 13,825 bilhões de igual período de 2004. 


Os lucros dos bancos brasileiros cresceram nos últimos anos na esteira da expansão do crédito, com ênfase nas operações de financiamento ao consumo, que dão o maior retorno mas também são as mais arriscadas. Isso acabou afetando a qualidade das carteiras. Por isso, vários bancos passaram a ser mais conservadores nas concessões de crédito. Como resultado, as operações cresceram menos do que em 2005. Ainda assim, a inadimplência aumentou, exigindo o reforço das provisões. 


Nos quatro maiores bancos de varejo acompanhados pela Merrill Lynch, o crédito aumentou 21,9% em 2006 em comparação com 25,5% em 2005. Isso não evitou que a inadimplência atingisse 7,3% do crédito em setembro de 2006 em comparação com 6,3% em dezembro de 2005. Como resultado, as despesas com provisões para perdas com crédito aumentaram 52% depois de crescer 50% em 2005. 


Os 50 maiores bancos mostram quadro semelhante. A carteira de crédito cresceu 23% nos doze meses terminados em setembro de 2006, atingindo R$ 523,849 bilhões, ligeiramente mais do que os 19% de igual período de 2005. As despesas com provisões, porém, saltaram 41% para R$ 22,108 bilhões, elevando o saldo em 35,4% para R$ 39,382 bilhões. 


Tanto o aumento das provisões quanto a ligeira redução do spread influíram na receita com crédito dos bancos, que montava a R$ 110 bilhões em setembro, 20,7% a mais do que os R$ 91,123 bilhões registrados em setembro de 2005. Nos doze meses anteriores, a receita de crédito havia crescido 27,4%. 


A Merrill Lynch espera para este ano, porém, que a inadimplência se estabilize em consequência das políticas mais restritivas implementadas pelos bancos, pela continuidade da queda dos juros e pela expansão das linhas menos arriscadas como o crédito consignado. Por isso, as despesas com provisões devem desacelerar. 


As principais previsões da Merrill Lynch incluem aumento de 19,6% do crédito, puxado pelo financiamento ao consumo, que representa um terço do mercado, notadamente no consignado e financiamento de veículos. 


Para os analistas do banco, Valerie Fry e Jorg Friedemann, Bradesco e Itaú devem ampliar o crédito e as provisões ao redor de 20%. Mas é o BB que deverá registrar o maior aumento do lucro líquido recorrente – 42% – enquanto o desempenho esperado para o Itaú é de aumento de 19,9%; para o Bradesco, de 18,9%: e para o Unibanco de 17,6%. Como explicaram os analistas da Merrill Lynch, o BB será particularmente beneficiado pela recuperação do agronegócio. 


O analista do UBS Pactual, Bruno Pereira, em relatório enviado a clientes, mostra um cenário semelhante. No relatório, que não distingue lucro recorrente do não recorrente, o analista prevê para este ano o aumento de 11% do lucro líquido do Bradesco, de 13,8% do Itaú; de 22,2% do Unibanco; de 10,4% da Nossa Caixa e de 52,6% do Banco do Brasil. 


No caso do BB, o UBS não está tão seguro sobre o impacto da melhoria da área agrícola. Embora os analistas prevejam para 2007 um ano melhor para a agricultura, Pereira não sabe se isso se traduzirá em cash flow maior para o banco. O analista também observou que a estratégia do BB de crescer no financiamento ao consumo e de automóveis o colocará em uma arena mais competitiva e de margens menores. Já o financiamento imobiliário, outra área de expansão, trará resultados a médio prazo. 

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