Crédito a empresas atinge R$ 59 bi e favorece pequenas e médias

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Fernando Dantas


O crédito às empresas, especialmente para as pequenas e médias, está se acelerando e deve se tornar um importante motor do crescimento econômico. “Estamos exatamente no ponto em que o crédito começa a estimular a economia”, afirma a economista Ana Carla Abrão Costa, da Consultoria Tendências, especialista em crédito e spread bancário.

Fernando Dantas


O crédito às empresas, especialmente para as pequenas e médias, está se acelerando e deve se tornar um importante motor do crescimento econômico. “Estamos exatamente no ponto em que o crédito começa a estimular a economia”, afirma a economista Ana Carla Abrão Costa, da Consultoria Tendências, especialista em crédito e spread bancário.


Ela observa que, após vários anos de expansão dos empréstimos, em que o principal destaque foram as operações com as pessoas físicas, o financiamento às empresas está voltando a ser um dos motores principais do aumento do crédito no Brasil. No primeiro ano do governo Lula, quando o volume total de crédito livre (concedido com taxas de mercado) saltou de R$ 363 bilhões para R$ 391,5 bilhões, a contribuição dos empréstimos às empresas foi de apenas 20%, ou R$ 7,5 bilhões. No último ano do primeiro mandato (os dados são de novembro a novembro), com um crescimento total do crédito de R$ 570 bilhões para R$ 697 bilhões, a participação das empresas no aumento subiu para 50%, ou R$ 59,6 bilhões.


Com o aumento do crédito às empresas, os principais beneficiados são as pequenas e médias, já que as grandes têm mais acesso ao mercado externo e aos financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).


A VEZ DOS PEQUENOS


Carlos Ronaldo, superintendente executivo do segmento de pessoa jurídica do Banco ABN Amro Real, relata que a carteira de crédito para pequenas e médias empresas da instituição cresceu 40% em 2006, mais do que a expansão de 25% do total de empréstimos para pessoas jurídicas. “E para 2007, estamos trabalhando com uma expectativa de 30% de crescimento para as pequenas e médias, no mínimo”, ele diz.


No HSBC, o crédito para pequenas e médias empresas com garantias em recebíveis cresceu 50% em 2006, atingindo R$ 3,7 bilhões. “Estamos apostando alto neste segmento”, diz Rodrigo Caramez, diretor de recebíveis do HSBC.


As principais razões para o crescimento, segundo o executivo, são a queda das taxas de juros e o surgimento de novos produtos de crédito.


O crédito, mesmo quando é para capital de giro, aumenta o fôlego financeiro das empresas e permite maior investimento, com menor uso do capital próprio. “Nos últimos três anos, pudemos fazer uma remodelação completa do nosso parque gráfico, porque conseguimos crédito. Antes, tudo tinha de ser com capital próprio e a gente precisava pagar quase à vista”, diz Antonio Carlos Simões Correa, sócio da Abfa BMS, empresa de serviços gráficos no Rio de Janeiro, representante Alphagraphics.


Henry Tjoanhan Go, presidente da Goincorp Incorporações e Empreendimentos Imobiliários, com atuação na zona Oeste paulistana, diz que expandiu suas operações de crédito em 20% em relação a 2005. Isso porque, segundo o empresário, as taxas de juros pagas caíram de 3% para 1,8% ao longo dos dois últimos anos. “As taxas estão em queda e a oferta de crédito será mais abundante”, ele aposta.


Ana Carla, da Tendências, observa que o impacto do crédito às empresas no crescimento econômico é maior do que o do crédito ao consumidor e às pessoas físicas em geral. O melhor da situação atual, ela continua, é que combina três anos seguidos de crédito ao consumo aquecido – o que dá aos empresários mais segurança sobre a firmeza da demanda – com disponibilidade de crédito para empresas que queiram ampliar seu negócio e investir.


Carteiras ganham novo perfil


A participação das pequenas e médias empresas na carteira de empréstimos dos bancos subiu no último ano. No Bradesco, o saldo de operações de crédito com empresas desse porte aumentou 22,4% em 2006, e a parcela desse segmento no portfólio de empréstimos saiu de 48% para 51%. “Está havendo um crescimento maior nas pequenas e médias, comparados com as demais”, diz Ademir Cossiello, diretor executivo do Bradesco. No Itaú, segundo o diretor executivo Sérgio Werlang, a projeção de crescimento da carteira de crédito para essas empresas em 2007 é de 35%.


Especialistas observam que uma das razões pelas quais o crédito das pequenas tem avançado mais do que o das grandes é que essas últimas têm explorado crescentemente o financiamento por captações diretas, como debêntures, ações ou emissões no mercado internacional.


Segundo relatório da consultoria Tendências os avanços institucionais na área de crédito, como a nova Lei de Falências e a ampliação da Central de Risco do Banco Central, têm mais impacto junto às pequenas e médias. A razão é que elas têm governança corporativa menos desenvolvida, representam um risco mais difícil para os bancos – e, portanto, têm mais a ganhar com regras do jogo que diminuam o risco em geral.

Queda nos juros facilita a concessão de empréstimos

A queda da taxa de juros, a melhora da avaliação de crédito pelos bancos e os instrumentos como a garantia de recebíveis estão por trás do aumento do crédito para pequenas e médias empresas. A Selic, a taxa básica de juros, caiu de 19,75%, em maio de 2005, para 13,25%. E o juro real do ‘swap’, as operações de 360 dias entre grandes bancos e empresas – e principal parâmetro privado dos juros – já está em 8% ao ano. Esta queda foi recente, já que a taxa real do swap permaneceu entre 10% e 11% na maior parte do primeiro mandato de Lula.


Para as pequenas e médias empresas, também está havendo um barateamento do crédito. Antonio Carlos Simões Correa, sócio da Abfa BMS, empresa carioca de serviços gráficos, recorda-se de como chegou a pagar taxas mensais de 5,5% ao mês há cerca de três a quatro anos. Hoje, ele desconta duplicatas a 1,80% ao mês, ainda muito alta em termos internacionais, mas bem mais palatável. “Houve uma abertura do crédito muito grande, e hoje tem linha à beça”, diz Correa.


Segundo Rodrigo Camarez, diretor de recebíveis do HSBC, as taxas de juros para pequenas e médias empresas caíram entre 15% e 20% nos últimos 12 a 18 meses.


Os executivos da área de crédito dos bancos também chamam a atenção para a maior sofisticação do mercado. “A estabilização ajuda a aumentar a confiança, mas os próprios bancos estão mais capacitados a operar com esse segmento, com o foco em garantias, modelos estatísticos e uma série de ferramentas que permitem entender a qualidade do crédito e criar ofertas sob medida, mais baratas”, diz Marcos Silva Massukado, diretor de produtos para micro e pequenas empresa do Unibanco.


Camarez, do HSBC, menciona a introdução de um sistema capaz de analisar cheques, duplicatas e recebíveis de cartões de crédito em grandes volumes como um dos fatores que levaram ao forte crescimento de 50% da carteira de crédito com garantia em recebíveis em 2006. “A previsão para 2007 é de crescer outros 20%, e atingir R$ 4,5 bilhões”, ele diz.




 

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