O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi um dos motivos que levaram o Banco Central (BC) a reduzir o ritmo de queda da taxa de juros. É o que revela a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta quinta-feira. Mesmo sem citar especificamente o PAC, o BC aponta no texto o risco de o aumento dos gastos do governo com o programa elevar ainda mais a demanda da economia e provocar novas pressões sobre os preços.
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi um dos motivos que levaram o Banco Central (BC) a reduzir o ritmo de queda da taxa de juros. É o que revela a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta quinta-feira. Mesmo sem citar especificamente o PAC, o BC aponta no texto o risco de o aumento dos gastos do governo com o programa elevar ainda mais a demanda da economia e provocar novas pressões sobre os preços.
Para o BC, esse é um risco adicional para a inflação, neste momento em que a demanda doméstica já se expande a taxas “robustas” por causa do processo de queda da taxa Selic desde 2005, e do aumento do crédito, da renda das pessoas e das despesas do governo em 2006.
Na contramão da cautela do BC, no entanto, a ata informa que as projeções de inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continuam em queda para níveis mais baixos do que o centro da meta de 4,5% fixada para este ano. Com relação a 2008, as estimativas também caíram. Os integrantes do Copom argumentam no documento que os dados sobre atividade econômica ainda não sugerem uma probabilidade elevada de pressões significativas sobre a inflação de curto prazo.
Mesmo assim, os membros do comitê decidiram na reunião da semana passada – dois dias após o anúncio do PAC – reduzir a Selic em apenas 0,25 ponto percentual, para 13% ao ano. A decisão não foi unânime. Nas cinco reuniões anteriores o Copom havia reduzido os juros em 0,5 ponto percentual.
Pela primeira vez, o BC incluiu em uma ata das reuniões do Copom a possibilidade de as contas do setor público fecharem 2007 e 2008 com superávit primário menor do que a meta de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB), devido à implementação do Programa Piloto de Investimento (PPI). O novo PPI, incluído no PAC, permite que a meta fiscal seja reduzida em até 0,5 ponto percentual, para 3,75% do PIB.
Indústria. Além disso, o BC previu que a expansão da indústria brasileira vai se acelerar em 2007 ajudada por “impulsos fiscais” – como o Copom prefere chamar o aumento dos gastos do governo – e pela redução dos juros já adotada até agora.
Para justificar a queda no ritmo de flexibilização da taxa de juros, o Copom aponta quatro fatores: os estímulos já existentes para a expansão da demanda agregada; as incertezas que cercam os mecanismos de transmissão da política monetária para a economia; os cortes de juros já implementados; e a menor distância entre a taxa básica de juros corrente e as taxas de juros que deverão vigorar em equilíbrio no médio prazo (a taxa de equilíbrio é a que permitiria crescimento sem inflação).
Foi com base nestas variáveis que cinco diretores do BC votaram, na reunião da semana passada, em favor da adoção de “parcimônia já” no processo de redução dos juros. Nas atas anteriores, o BC já havia mencionado a necessidade de maior parcimônia. Outros três integrantes do Copom, no entanto, consideraram que ainda havia espaço para adiar a redução na velocidade de queda dos juros.
“Essa ponderação (pela adoção da parcimônia) se torna ainda mais relevante quando se leva em conta os sinais de demanda aquecida, as pressões sobre a inflação no curto prazo e que as decisões de política monetária passarão a ter impacto concentrados no segundo semestre de 2007 e, progressivamente, em 2008”, afirma a ata.
Ritmo menor de corte continuará, avalia mercado
Para nalistas de bancos estrangeiros, a ata do Copom confirmou a avaliação majoritária de que, ao reduzir o ritmo de cortes da Selic, o Banco Central pretende alongar o ciclo de relaxamento monetário. Mas há divergências sobre o fôlego da redução ao longo deste ano.
Para o economista sênior do banco Dresdner Kleinwort (DKIB), Nuno Camara, o tom da ata “foi muito neutro e, apesar da divisão dos votos no Copom, sem controvérsia”. Segundo ele, o efeito retardado da política monetária, a política fiscal expansionista e o crescimento robusto na demanda agregada justificaram o corte menor.
“Foi a melhor decisão porque é justamente por causa das políticas ortodoxas do BC que as taxas deverão continuar caindo, pois a perspectiva para a inflação continua positiva”, disse Camara. “Com isso, nossa aposta para uma Selic em 11,25% no fim de 2007 permanece.”
O economista-chefe do HSBC no Brasil, Alexandre Bassoli, prevê que a Selic atingirá 12% em julho e permanecerá inalterada até o fim do ano. Ele não descarta a hipótese de a taxa cair um pouco mais até dezembro, mas está pessimista. “Achamos que o potencial de crescimento do PIB é possivelmente inferior a 3%”, disse. “Há uma pequena capacidade ociosa a ser ocupada, mas desequilíbrios poderão emergir se o crescimento acelerar para além dos 3,5%.”
Para Alberto Ramos, do Goldman Sachs, o BC está confortável com a inflação e vê espaço para continuar reduzindo a Selic. O cenário mais provável, segundo ele, é de mais três cortes de 0,25 ponto em março, abril e maio.