A produção industrial brasileira aumentou 0,5% em dezembro, ante novembro – a terceira expansão consecutiva nessa base de comparação -, e 0,4% em relação a dezembro de 2005, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano, a indústria apresentou expansão de 2,8% sobre 2005. É o menor índice desde 2003. Os efeitos do câmbio foram a principal causa do crescimento inferior ao de 2005, de 3,1%.
A produção industrial brasileira aumentou 0,5% em dezembro, ante novembro – a terceira expansão consecutiva nessa base de comparação -, e 0,4% em relação a dezembro de 2005, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No ano, a indústria apresentou expansão de 2,8% sobre 2005. É o menor índice desde 2003. Os efeitos do câmbio foram a principal causa do crescimento inferior ao de 2005, de 3,1%. Mas os dados apontam que este ano será aquecido e as projeções são de expansão de 4%, apoiada especialmente na expectativa de continuidade na queda dos juros.
A gerente de análises e estatísticas da coordenação de indústria do IBGE, Isabella Nunes, acredita que não houve desaceleração na produção industrial de 2005 para 2006. Em sua análise, “o ano passado foi de melhor qualidade para o setor industrial”. O argumento é que o índice de difusão da indústria mostra que, dos cerca de 750 itens investigados, 54,6% registraram crescimento na produção em 2006, ante 49,7% em 2005.
Segundo Isabella, o fraco desempenho de dezembro ante igual mês do ano anterior “foi muito influenciado pelo efeito pontual” de menos dois dias úteis neste mês no ano passado em relação a igual mês do ano anterior. Ela destacou também, como dado auspicioso para o desempenho da indústria no início de 2007, o resultado em dezembro do índice de média móvel trimestral, considerado principal indicador de tendência. Esse índice vem registrando crescimentos consecutivos há nove meses, desde abril de 2006. Houve crescimento de 0,7% na produção no trimestre encerrado em dezembro ante o terminado em novembro, o maior aumento apurado desde dezembro de 2005.
Isabella disse que os dados setoriais relativos a janeiro e os de dezembro mostram que no início de 2007 “há um cenário positivo” para a produção da indústria. Mas o instituto não faz projeções de desempenho para o setor.
IPEA
Estêvão Kopschitz, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao Ministério do Planejamento, não considerou os dados de dezembro reveladores de um ganho de ritmo forte da indústria, ainda assim avalia que 2007 será um ano melhor do que 2006 para o setor. Segundo Kopschitz, o Ipea, que previa exatamente o crescimento de 2,8% apurado pelo IBGE na produção industrial no ano passado, estima uma expansão de 4% para 2007. Para ele, esse incremento seria puxado pela continuidade da queda dos juros e por um nível de estoques “adequado” na indústria.
O Banco Central também trabalha com a perspectiva de aumento de 4% na produção este ano e o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) considera “factível” alcançar essa estimativa. O economista-chefe do Iedi, Edgard Pereira, disse que a confirmação dessa expansão dependerá, da continuidade do ritmo de queda dos juros.
Isavella destacou que os principais impactos positivos para a indústria em 2006 foram o aumento da massa salarial, estabilidade no mercado de trabalho e ampliação das linhas de crédito. “Não houve desaceleração no crescimento da produção em 2006, estamos crescendo em cima de 3,1% de 2005”, disse.
A gerente ressaltou ainda que o ano fechou com reação forte da indústria, após meses seguidos de discreta recuperação. Segundo Isabelkla, o mês de dezembro de 2006 mostrou um “ritmo mais acelerado” da produção industrial do que ao longo do ano passado.
De acordo com Isabella, comparando todos os meses de dezembro desde 1991, o último mês de 2006 mostrou produção mais elevada para meses de dezembro de toda a série da pesquisa industrial mensal. “É um dezembro aquecido, mais aquecido do que as médias dos “dezembros””, disse a gerente.
CNI não vê risco de pressão de demanda
Dados divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontam que o aumento da renda das famílias, a oferta de crédito com juros mais baixos e a estabilidade da taxa de câmbio contribuíram para o melhor desempenho da indústria de transformação no quarto trimestre de 2006. As vendas reais cresceram 1,93%em dezembro, ante igual mês do ano passado, e 2,92% em relação a novembro – a maior taxa mensal registrada desde agosto de 2004.
No acumulado do ano, as vendas apresentaram alta de 1,72% em relação a 2005, enquanto que as horas trabalhadas subiram 1,8%. “As vendas devem ter um crescimento moderado em 2007, mas um pouco mais forte que em 2006”, destacou o economista-chefe da Unidade de Política Econômica da CNI, Flávio Castelo Branco Castelo Branco.
Por outro lado, o número de horas trabalhadas, que indica o ritmo da produção, praticamente se estabilizou após meses de altas significativas. Segundo a CNI, “a combinação de aceleração do ritmo de crescimento das vendas e a acomodação das horas trabalhadas na produção sinaliza uma queda de estoques, o que gera uma percepção positiva para a atividade industrial neste início de 2007”. Já o número de empregos na indústria subiu 2,21% na comparação com 2005, uma taxa de crescimento inferior aos dois anos anteriores. Ainda assim, a CNI projeta que um quadro favorável para o emprego em 2007.
Para Castelo Branco, “a atividade industrial deve continuar em expansão no início deste ano, mantendo a tendência de recuperação do segundo semestre do ano passado”. Ele espera indicadores “importantes” já no mês de janeiro e também projeta aumento dos investimentos no ano, baseado nos últimos indicadores de Formação Bruta de Capital Fixo (que mede os investimentos) e no desempenho da indústria de máquinas e equipamentos.
“Ainda não é o que se deseja, mas é um sinal positivo”, disse Castelo Branco. “Houve um processo de investimento moderado nos últimos meses de 2006, que deve continuar em 2007. As restrições que pesam ainda não foram ultrapassadas. O câmbio ainda é um entrave para as exportadoras porque estabilizou-se, mas em um patamar muito baixo”, completou.
A CNI também não vê risco de pressão inflacionária em caso de aumento de demanda, tendo em vista que o nível de utilização da capacidade instalada fechou 2006 em 82%. Para Castelo Branco, os números de 2006 não justificam o temor do Banco Central, que na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu o ritmo de queda da taxa básica de juros (Selic).
“A estabilidade na utilização da capacidade instalada mostra que podemos crescer sem causar tensões nos mercados”, argumentou. Para o economista, a decisão do Copom está mais ligada ao anúncio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). “Esta é a análise que nós fizemos e que todos os analistas de mercado estão fazendo”, disse. “O gasto público cresceu em 2006 e há indicações de crescimento em 2007, o que deveria ser evitado. Talvez seja essa a razão de um corte mais moderado, em 0,25 ponto percentual”, observou.
Castelo Branco avaliou ainda que o PAC terá pouco impacto na decisão de investimentos das empresas em 2007 porque as desonerações tributárias ficaram aquém do esperado e comentou que, por serem restritas a determinados setores, as ações do PAC não terão impacto sobre o setor privado de um modo geral. Ele alertou que, apesar de confortável, o índice de utilização da capacidade fechou 2006 em um ponto percentual acima da média do indicador entre 2000 e 2006, o que mostra a necessidade de mais investimentos para melhorar as taxas de crescimento econômico a longo prazo.