A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) vê motivação política na decisão do Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central (BC) de reduzir o ritmo de queda dos juros básicos (Selic). Em documento obtido com exclusividade pelo Estado, a entidade afirma que a decisão foi uma tentativa do BC de preservar a sua hegemonia na definição da política econômica do País.
‘Como os animais marcam território, o BC utilizou a definição da Selic para defender a posição conquistada no primeiro mandato do presidente Lula’, diz a Fiesp.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) vê motivação política na decisão do Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central (BC) de reduzir o ritmo de queda dos juros básicos (Selic). Em documento obtido com exclusividade pelo Estado, a entidade afirma que a decisão foi uma tentativa do BC de preservar a sua hegemonia na definição da política econômica do País.
‘Como os animais marcam território, o BC utilizou a definição da Selic para defender a posição conquistada no primeiro mandato do presidente Lula’, diz a Fiesp. O texto faz comparações com o comportamento de cães e lobos. ‘Quando dois grupos disputam o mesmo território, ambos uivam para intimidar o grupo opositor’.
Para o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, o BC tem sido um obstáculo para o desenvolvimento prometido pelo presidente Lula. Segundo ele, os responsáveis pelo BC têm como missão o controle da inflação, mas não estariam tendo a visão maior de criar condições para o crescimento do País.
‘Cabe ao presidente da República adequar a linha do BC às intenções do governo como um todo’, afirma Skaf. ‘ Volto a dizer que o presidente Lula é maestro de uma orquestra onde não é possível ter um dos músicos desafinando na execução da sinfonia do crescimento.’
Em 24 de janeiro, dois dias depois do lançamento do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), o Copom decidiu reduzir a Selic em 0,25 ponto porcentual (para 13% ao ano), interrompendo a seqüência de 11 cortes de 0,5 ou 0,75 ponto porcentual.
Na apresentação do PAC, o presidente anunciou um novo período, que seria marcado pelo desenvolvimento e o retorno do otimismo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a fazer um apelo ao presidente do BC, Henrique Meirelles, para acelerar a redução dos juros.
‘O BC reafirmou a um e outro que não queria abrir mão do que conquistou’, afirma a Fiesp. ‘Nem otimismo nem queda de juros – o território conquistado tem que ser mantido’.
Para a entidade, a primeira conseqüência é que fica, mais uma vez, retardada a retomada do crescimento. A Fiesp projeta crescimento de apenas 2,7% para o Produto Interno Bruto (PIB, a soma das riquezas produzidas no País) em 2006 e de ‘meros’ 2,8% para a produção física da indústria brasileira. ‘Num momento em que o governo tenta coordenar um esforço no sentido de buscar mais crescimento, o BC opta por arrefecer esse processo.’
O documento aponta que a trajetória mais lenta de queda da Selic também pode ter contribuído para a forte valorização do real nos dias que sucederam o anúncio da Selic. ‘A decisão foi contra as previsões da maior parcela do mercado financeiro, que pode ter reavaliado as posições e contribuído para valorizar o câmbio’.
A argumentação da ata do Copom para justificar o corte tímido dos juros é fraca, segundo a entidade. A preocupação com a demanda doméstica, por exemplo, não se justificaria diante da evolução recente dos indicadores de emprego e crédito. ‘O crescimento da demanda pode ser qualificado, no máximo, como modesto e não robusto, como cita o Copom.’
A Fiesp ainda rebate a fundamentação sobre as ‘incertezas que cercam os mecanismos de transmissão da política monetária’. Nesse caso, o argumento do Copom é que uma parcela importante dos efeitos dos cortes de juros ainda não se refletiu no nível de atividade. Dessa forma, seria necessário ter cautela para que se possa analisar o impacto da redução já efetivada dos juros no nível de atividade dos próximos e meses.
‘Surpreende o fato de o Copom não considerar que tanto a inflação corrente quanto a expectativa de inflação do mercado para os próximos 12 meses situam-se em níveis muito inferiores à meta de inflação.’
Sobre a preocupação do BC com a redução da distância entre os juros correntes e o de equilíbrio a médio prazo, a Fiesp diz que ela ainda é muito grande. A inflação ao consumidor é de 3,1% ao ano, enquanto os juros básicos situam-se em 13%, o que resulta em juros reais de cerca de 9,9%.
A diferença entre o juro real brasileiro e o norte-americano é de 7,2 pontos porcentuais. Boa parte dessa diferença é explicada pelo risco Brasil, atualmente ao redor de 190 pontos base. ‘Uma vez descontado o risco país, ainda restam 5,3% de taxa real de juros que não pode ser explicada por nenhum outro fator senão o conservadorismo do Copom’.