Estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) revelou que o preço de investimento no Brasil não está muito acima do praticado no mercado internacional e também não foi responsável pelo baixo crescimento da economia brasileira nos últimos anos. O preço de bens de capital no país é menor que o praticado em países como México, África do Sul e Rússia.
Estudo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) revelou que o preço de investimento no Brasil não está muito acima do praticado no mercado internacional e também não foi responsável pelo baixo crescimento da economia brasileira nos últimos anos. O preço de bens de capital no país é menor que o praticado em países como México, África do Sul e Rússia. Por outro lado, é maior quando comparado ao de países em desenvolvimento como China, Índia e Argentina.
Segundo dados levantados pelos economistas Fernando Puga e Marcelo Nascimento, os preços de bens de capital no Brasil foram também inferiores aos de países desenvolvidos: 12% mais baratos que nos Estados Unidos e 38,7% na comparação aos do Japão. O estudo afirma que a baixa taxa de investimento no país -composto pela Formação Bruta de Capital Fixo sobre o Produto Interno Bruto (FBCF) – foi resultado de políticas de ajuste macroeconômico direcionados à contenção da demanda, após a crise externa dos anos 80.
“A elevação do preço de investimento no Brasil não foi muito diferente de qualquer outro país. O que houve, nos anos 80, foi uma política de ajuste ao cenário externo, o que levou a sucessivas mudanças que deprimiriam os preços da economia”, avalia Fernando Puga, acrescentando que, por não afetar negativamente a taxa de investimento do país, o setor de bens de capital também não freou o crescimento da economia brasileira nas últimas duas décadas.
Importações
Para alguns economistas, a redução na taxa de investimento brasileira teria sido decorrência da política de substituição de importações de bens de capital, implementada nos anos setenta no âmbito do 2º Plano Nacional de Desenvolvimento. Essa internalização na matriz industrial brasileira teria provocado um aumento nos preços relativos das máquinas e equipamentos. Isso teria ocorrido por meio da proteção excessiva à produção doméstica, criando oligopólios e uma indústria ineficiente.
O estudo mostra que, entre 1966 e 1979, um período de crescimento rápido e sustentado, associado a uma relativa estabilidade externa e inflação administrada, os preços do investimento no Brasil em dólares estiveram em linha com os internacionais. Esse padrão foi abruptamente rompido no início dos anos 80, quando chegaram a ficar a apenas um terço do praticado no mercado internacional. “O deslocamento ocorreu por causa da crise econômica que se seguiu aos choques do petróleo nos anos setenta”, afirma.
Como resposta ao choque, foi instalada no Brasil uma rigorosa política de contenção de demanda no país, acompanhada por sucessivas desvalorizações cambiais, o que permitiria fazer o ajuste externo da economia. As mudanças no câmbio levaram os preços domésticos para abaixo dos internacionais. A partir do final dos anos 1980, os preços de bens de capital no Brasil ficaram mais próximos dos internacionais. A forte liberalização comercial implementada no período contribuiu para essa convergência.
“O descolamento entre as duas curvas, em 1999 e entre 2002 e 2003, refletiu novamente as políticas de ajuste macroeconômico às crises no balanço de pagamentos, que foram acompanhadas pelos movimentos de forte desvalorização da moeda nacional. Desde então, com a maior estabilidade econômica e a valorização da taxa de câmbio, novamente se verificou um cenário de convergência entre os níveis de preços dos investimentos no Brasil e no mundo”, afirma o economista.
Ele acrescenta que nos três últimos anos vem se observando um quadro consistente de melhora nos indicadores externos da economia, acompanhada de maior estabilidade macroeconômica. Desde então, a taxa de investimento vem se recuperando e tende a se acelerar nos próximos anos. “Fizemos trabalho analisando o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e trabalhos da perspectivas de crescimento da economia. Existe melhora no balanço das empresas, com redução do endividamento e melhora em seu perfil”, completa.