Pesquisa mostra que 59% dos consumidores que ganham até três mínimos estão inadimplentes
Enquanto bancos e financeiras esticam prazos sem medo da inadimplência, alegando que ela está alta mas sob controle e que boa parte dos empréstimos tem garantias, pesquisas mostram que o quadro não é tão favorável assim, especialmente para o consumidor das camadas de menor renda.
Dados da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio – SP) revelam que 59% dos consumidores que recebem até três salários mínimos mensais – ou R$ 1.050 – estão inadimplentes neste mês.
Pesquisa mostra que 59% dos consumidores que ganham até três mínimos estão inadimplentes
Enquanto bancos e financeiras esticam prazos sem medo da inadimplência, alegando que ela está alta mas sob controle e que boa parte dos empréstimos tem garantias, pesquisas mostram que o quadro não é tão favorável assim, especialmente para o consumidor das camadas de menor renda.
Dados da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio – SP) revelam que 59% dos consumidores que recebem até três salários mínimos mensais – ou R$ 1.050 – estão inadimplentes neste mês. Em fevereiro, esse percentual era de 57%.
É nesta faixa de renda que está a grande massa de consumidores que usam o crédito. Já na média geral dos 1.360 entrevistados pela entidade, a inadimplência é bem menor: estava em 40% no mês passado e agora, em 41%.
A diretora da Assessoria Econômica da Fecomércio – SP, Fernanda Della Rosa, considera arriscado os índices de inadimplência atuais para as camadas de baixa renda e não vê com tranqüilidade o alongamento de prazos do crediário. Em sua análise, o consumidor procura o crédito porque não tem renda para manter o consumo e essa capacidade de pagar as contas em dia está se esgotando na baixa renda.
Descontrole
A diarista Avani Novaes Barbosa, de 48 anos e mãe de três filhos, vive hoje uma situação dramática. Sem alternativa para pagar as contas, foi pegando um empréstimo atrás do outro, até que as prestações das suas dívidas ficaram maiores que a sua própria renda.
Resultado: Avani agora quer distância dos empréstimos. “Ganho R$ 700 por mês e só de crediário gasto R$ 800 com cinco financiamentos”, diz ela.
Pela primeira vez na vida ela está inadimplente. Com o acidente de um filho e o desemprego de outro, Avani perdeu o pé das finanças. “Estou abalada com a situação: não durmo direito e emagreci seis quilos”, diz a diarista.
Com dívidas acumuladas de R$ 5 mil, Avani diz que não vai voltar às compras tão cedo. “Só vou fazer compras de novo em 2008”, prevê. Nem mesmo as ofertas que dão um longo prazo de carência para o pagamento da primeira prestação atraem a diarista. “Não entro mais nessa de pagar mais para frente. Agora só vou comprar quando eu tiver dinheiro.”
A partir de dados do Banco Central (BC), a RC Consultores faz uma análise que revela que o crédito consignado oculta hoje um nível crescente de inadimplência do consumidor.
Considerando os atrasos entre 15 e 90 dias e acima de 90 dias, o estudo mostra que a inadimplência, excluindo o consignado, girava em torno de 28% dos créditos a receber em janeiro deste ano. Já se for levado em conta o crédito consignado, esse indicador cai para algo em torno de 11%.
“Os bancos acreditam que existe potencial de crescimento de massa salarial, mas o risco está crescendo”, adverte o diretor da RC Consultores, Fabio Silveira.
Ele observa que, neste ano, ainda há espaço para ampliar o crédito sem grandes riscos para o sistema por conta do consignado. Mas o economista ressalta que é preciso apoiar o crescimento do País cada vez mais no investimento e na produção e menos no crédito.
Prazos Longos
O vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira, diz que a corrida dos bancos para alongar prazos de pagamento e carência dos financiamentos é uma tentativa para garantir financiamentos com uma taxa de juros maior por um período mais longo.
Como a tendência dos juros é de queda, as instituições financeiras, diz ele, querem garantir a rentabilidade futura maior, facilitando a venda hoje com prazos dilatados. É que, se elas deixarem para conquistar o consumidor mais para o fim do ano, quando os juros de mercado serão menores, a rentabilidade dos financiamentos certamente também será menor.
Foi a facilidade de começar a pagar os móveis só em dezembro que a levou a aposentada Terezinha Alves Monteiro às compras. Ela conseguiu obter da loja uma carência de onze meses para começar a pagar as prestações da compra. Até lá, Terezinha pretende ter quitado o financiamento da casa própria, que vem sendo pago nos últimos três anos.