Gustavo Franco propõe zerar as alíquotas de importação

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Abrir mais a economia e zerar temporariamente as alíquotas de importação é a única maneira de o Brasil reverter a valorização do real, defendeu o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco. Atualmente sócio da empresa de serviços financeiros Rio Bravo, ele descartou o argumento de parte dos analistas de que o nível do juro no país é o propulsor do câmbio.


“Vamos direto ao fundamento do problema: o excesso de oferta de dólar e o superávit comercial. Não é a taxa de juro, é o comércio.



Abrir mais a economia e zerar temporariamente as alíquotas de importação é a única maneira de o Brasil reverter a valorização do real, defendeu o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco. Atualmente sócio da empresa de serviços financeiros Rio Bravo, ele descartou o argumento de parte dos analistas de que o nível do juro no país é o propulsor do câmbio.


“Vamos direto ao fundamento do problema: o excesso de oferta de dólar e o superávit comercial. Não é a taxa de juro, é o comércio. Então, qualquer outra solução é paliativa”, disse Gustavo Franco em entrevista no Reuters Latin American Investment Summit. “A importação é a única coisa que poderá fazer o câmbio acordar. E o sono é cada vez mais profundo; nós vamos ficar abaixo de US$ 2 daqui a pouco.”


Gustavo Franco avaliou que sem as atuações diárias do Banco Central, o câmbio estaria ainda mais valorizado, mas lembrou o custo fiscal dessa ação, já que o Tesouro Nacional enxuga os reais usados na compra de dólares com a venda de títulos públicos. “Acho que zerar as alíquotas todas por um período de tempo seria interessantíssimo para testar a resposta das importações e produzir um efeito cambial relevante… Isso é muito mais barato para o Tesouro”, insistiu.


O dólar acumula queda de quase 25% nos últimos dois anos, cotado abaixo de R$ 2,1. “Com a próxima boa notícia relevante, o (patamar de) R$ 2,05 vai ser atacado”, previu Franco.


Mercantilismo


O ex-presidente do BC argumentou que, apesar da prevista chiadeira de alguns setores, a abertura do país às importações é importante para “o conjunto dos participantes do comércio exterior” no médio prazo. A balança comercial brasileira acumula superávit de mais de US$ 7 bilhões este ano. Em 2006, o saldo positivo foi recorde, de US$ 46,077 bilhões.


Gustavo Franco também rejeitou a idéia de que o Brasil só deveria liberar as importações de serviços como uma contrapartida nas discussões comerciais da Rodada de Doha. “Há anos que eu ouço isso. Acho que não compensa, porque o Brasil deixa de fazer alguma coisa que é do nosso próprio interesse alegando que vai usar isso para obter alguma concessão”, afirmou.


“Lembro lá atrás, nos anos 90, quando se fez a abertura, tinha essa mesma crítica. E gente que hoje é ministro dizendo ‘ah, não podia ter feito sem ter uma contrapartida’. Isso é um mercantilismo de quinta categoria.”


E, sem vislumbrar uma forte crise internacional, Gustavo Franco acredita que a tendência é que o país receba mais recursos externos – acentuando o avanço do real.”Os raciocínios estão muito longos para explicar uma crise internacional. Como a explicação está muito difícil, acho que é porque a crise está um pouco longe”, comentou o economista.


Em tom jocoso, Gustavo Franco citou a “obsessão” de operadores por assuntos como “em que medida o ‘carry trade’ com ‘funding’ japonês poderá explodir uma bolha de preços de commodities”.


Gustavo Franco, que como presidente do BC no final dos anos 90 gastou bilhões de dólares tentando defender uma taxa de câmbio fixa, disse que companhias locais comprariam mais bens importados e buscariam mais dólares no mercado de câmbio à vista se as tarifas fossem cortadas. A medida ajudaria a absorver a enxurrada de dólares no mercado proveniente das exportações brasileiras


Os políticos e os líderes de negócios pedem esforços mais vigorosos para enfraquecer o real e proteger fabricantes locais das importações com preços acessíveis e para incentivar a entrada de novos fabricantes no mercado de exportação.


O Banco Central, na sexta-feira, aumentou sua previsão do superávit em conta corrente em 2007 de US$ 4,5 bilhões para US$ 7,7 bilhões devido às maiores exportações e investimentos estrangeiros direto. “O Brasil tem um enorme superávit na conta corrente que não mostra sinais de queda”, disse Franco. “Você não pode almoçar e ainda continuar com seu dinheiro”, completou.


Baixar as tarifas de importação temporariamente pode prejudicar algumas companhias, mas é uma maneira muito mais barata para o governo de enfraquecer o real. O governo vende títulos locais que tem quase 12% de juros ao ano para comprar dólar no mercado à vista.




 

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