Iedi discorda de proposta de Franco

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A proposta do ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, de zerar as alíquotas de importação como mecanismo de desvalorização do real colocou em campos opostos representantes do setor produtivo e analistas de mercado. Franco defende que a medida seja temporária, até que a trajetória de queda da moeda americana seja revertida.


Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a medida é perigosa e traria mais danos que benefícios ao setor produtivo nacional.

A proposta do ex-presidente do Banco Central, Gustavo Franco, de zerar as alíquotas de importação como mecanismo de desvalorização do real colocou em campos opostos representantes do setor produtivo e analistas de mercado. Franco defende que a medida seja temporária, até que a trajetória de queda da moeda americana seja revertida.


Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a medida é perigosa e traria mais danos que benefícios ao setor produtivo nacional. “Se hoje, com as alíquotas de importação em vigor, o industrial brasileiro já enfrenta dificuldades em manter sua produção em alguns setores, sem a alíquota a produção poderia se tornar inviável”, argumenta o economista-chefe do Iedi, Edgard Pereira. De acordo com Pereira, a medida teria como resposta o fechamento de fábricas no país e o conseqüente aumento do desemprego.


consumo. A mesma avaliação faz o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. “A medida em nada vai aumentar o volume das importações brasileiras. O câmbio hoje não é um impeditivo para as importações. Elas não crescem porque o consumo interno não está crescendo. A medida vai fazer, apenas, com que algumas empresas aumentem seus lucros, em detrimento do restante da indústria nacional”, defende. Castro acrescenta que “o Brasil tem um péssimo histórico de medidas temporárias. No mundo todo se defende a indústria. Temos que fazer o mesmo com a nossa”.


Já para o economista da Tendências Consultoria, Guilherme Loureiro, a medida seria positiva. Além de aumentar o volume das importações, o que ajudaria a enxugar o excesso de dólares presente hoje no mercado, daria maior competitividade à indústria nacional. “Alguns setores menos competitivos poderiam, realmente, sofrer com a entrada de importados. Mas numa visão mais ampla, o impacto é positivo. Isto porque, os recursos hoje voltados para estes setores menos competitivos poderiam migrar para setores mais competitivos, inclusive a mão-de-obra”, argumenta. Loureiro diz, ainda, que nesta migração de recursos, os setores de maior valor agregado seriam os mais beneficiados.


O economista da MB Associados Sérgio Vale também vê a medida como boa alternativa para a desvalorização do real. Ele aponta como aspecto positivo um melhor preço para o consumidor final como reflexo da concorrência com mais importados. “Além disso, no médio prazo, as empresas mais afetadas poderiam se recuperar. Isto porque, com o dólar valendo mais, elas teriam melhor remuneração para seus produtos, retomando a competitividade”, ressalta Vale.


Ele também compartilha da opinião de que a entrada de produtos importados pode estimular a maior produtividade do parque industrial brasileiro. Vale ressalta, no entanto, que só esta medida não será suficiente para resolver o problema. Segundo o economista, o ideal seria o governo adotar um conjunto de medidas, como a reforma tributária, que tivessem impacto positivo na competitividade da indústria nacional.


Governo não sabe como frear o real, diz Furlan


A quatro dias de deixar o governo, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, afirma que o Brasil enfrenta um dilema em relação ao câmbio e admite que o governo não sabe como frear a valorização do real, que tem tirado a competitividade de alguns setores brasileiros no mercado internacional.


“Quanto mais a situação do Brasil melhora, em termos de credibilidade, em termos de reservas internacionais e de superávit comercial, maior vai ser o afluxo de recursos estrangeiros, e, de uma certa forma a pressão sobre o câmbio”, prevê o ministro, que está no Uruguai, liderando uma missão com cerca de 30 representantes do governo e do setor privado.


Furlan sugere que os setores que ainda não se adaptaram ao novo patamar do câmbio que ofereçam sugestões para melhorar a produtividade. “O que a gente pede é que os setores, que ainda colocam esse tema, que coloquem sugestões. Aquilo que se dizia que precisava comprar mais (dólar), está sendo comprado agressivamente. Ninguém imaginava em janeiro do ano passado, que as nossas reservas internacionais pudessem caminhar para US$ 150 bilhões em 2007”, disse.


Para o ministro, o governo deve encontrar caminhos para dar ganhos de produtividade à produção brasileira retirando pesos e entraves que hoje encarecem a produção. Furlan lista três frentes de ação: melhorar a infra-estrutura do país; reduzir a carga tributária e os custos financeiros; e eliminar a burocracia. Para ele, os estudos no governo para continuar desonerando os setores afetados pela valorização do real deveriam ser levados adiante.


Na avaliação do ministro, o desafio do seu sucessor, Miguel Jorge, será impulsionar o mercado interno, depois de quatro anos de recordes sucessivos no comércio exterior. Segundo Furlan, o lançamento do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é uma oportunidade para investir em políticas industriais.


“O presidente Lula tem dito que já existe uma força que movimenta as exportações”, disse. Furlan também defende a necessidade de Miguel Jorge levar adiante a busca por investidores estrangeiros nas áreas de semicondutores e fármacos.

 


 

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