Bens importados já representam 19% da produção industrial

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A presença dos importados no consumo doméstico do país cresceu bastante nos últimos três anos, situando-se num patamar de 5,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2006, revela estudo do BNDES. Este percentual é relativamente baixo se comparado à média mundial de 15%, diz Fernando Puga, autor do trabalho divulgado ontem pela Secretaria de Assuntos Econômicos (SAE), da presidência do banco.

A presença dos importados no consumo doméstico do país cresceu bastante nos últimos três anos, situando-se num patamar de 5,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2006, revela estudo do BNDES. Este percentual é relativamente baixo se comparado à média mundial de 15%, diz Fernando Puga, autor do trabalho divulgado ontem pela Secretaria de Assuntos Econômicos (SAE), da presidência do banco. No mesmo período, o percentual de penetração da importação na indústria de transformação saltou para 19%, o maior nível dos últimos 11 anos. 


Para Puga, o fenômeno foi estimulado também pela apreciação cambial que ajudou a ampliar a presença dos importados na maioria dos setores industriais. A única exceção foi do setor de máquinas de escritório e informática. Os números levantados pelo economista revelam que os segmentos industriais intensivos de mão-de-obra e o de máquinas e equipamentos industriais foram os mais afetados pela enxurrada de compras externas, sofrendo dura concorrência dos produtos chineses, num ambiente de câmbio apreciado. 


No entanto, o economista avalia que o fato não chega a constituir um processo de desindustrialização, indicando mais uma mudança no perfil da produção. “A presença maior dos importados, que decorre também de um movimento mundial de maior intercâmbio entre os países, está tendo efeitos concentrados em alguns setores, como de calçados e têxteis e de máquinas e equipamentos industriais. Na verdade, isto sinaliza mudanças no perfil da produção. E o que vemos claramente é que o trabalho é que está sendo mais afetado. A situação é preocupante e é preciso ter políticas para lidar com esta transição”, alerta Puga. 


Ele mediu o coeficiente de penetração das importações – indicador que mede o impacto do volume das importações na indústria de transformação – nos diferentes setores da indústria. O mais impactado foi o de máquinas e equipamentos industriais, que registrou um avanço de quase 10 pontos percentuais entre 2003 e 2006, saltando de um patamar de presença de importados de 28% em 2003, para 37% no ano passado. 


Na média dos setores intensivos em mão-de-obra, o incremento no coeficiente dobrou de 5% para 10% em três anos. A presença de importados no setor têxtil triplicou, saindo de 7% para 12%. E dobrou de 3% para 6% na indústria calçadista. Mesmo assim, a participação das importações no consumo doméstico destes setores situa-se bem abaixo da média da indústria de transformação. Para o cálculo do consumo, o economista utilizou o dado de produção doméstica, menos exportações e mais importações. 


Os dados revelam, porém, que os setores de calçados, têxteis e vestuário estão perdendo espaço na produção nacional e outros setores ligados aos insumos básicos, como siderurgia, papel e celulose, estão crescendo e investindo em novas plantas, o que dá uma indicação de que não está ocorrendo um movimento de desindustrialização no país, na avaliação do economista do BNDES. No caso de máquinas e equipamentos, Puga reconhece que este é um segmento de fortes diferenciações. Mas, as fábricas de máquinas para fins industriais vêm sofrendo forte concorrência chinesa. 


O coeficiente chegou a níveis recordes no setor de material eletrônico e de comunicações e de equipamentos médicos e ópticos. A presença dos importados nos eletroeletrônicos e aparelhos de comunicação chegou a 51% no ano passado, ante 34% em 2003. No segundo caso, dos equipamentos médicos e óticos, bateu o recorde, alcançando o nível de 68%. Puga explicou que este desempenho não chama atenção, pois estes setores, com destaque para o eletrônico, já tem um altíssimo coeficiente de importação há muito tempo. “O setor é basicamente de montagem de eletrônicos e vai continuar importando kits cada vez mais baratos, derrubando preços de TVs e outros equipamentos para vender cada vez mais no mercado consumidor doméstico”. 


Para fazer estes cálculos, ele levantou números de importações junto à Secex, do Ministério do Desenvolvimento e compatibilizou as classificações de produtos com a CNAE usada pelo IBGE. “Trabalhei sempre com volumes de importação”, informou. Também procurou deflacionar dados para calcular os coeficientes com base na paridade do poder de compra de 2000. “Medi as quantidades importadas, tentando retirar dos cálculos efeitos meramente cambiais”, explicou Puga. 


Na sua análise, o coeficiente de 19% da indústria de transformação brasileira é alto, mas não há um sinal claro de que vai aumentar se for mantido este patamar de câmbio. Para ele, a indústria não está perdendo espaço e o efeito cambio é diluído em setores que estão se beneficiando, como a indústria extrativa e de logística, enquanto o trabalho é que vem sendo afetado. “O que me preocupa é esta transição. É preciso levar em conta os custos econômicos e sociais decorrentes destas mudanças”. 


Renda aumenta em fevereiro para quem ganha mais


Os trabalhadores com salários mais elevados e mais escolarizados puxaram o crescimento da renda média em fevereiro nas maiores regiões metropolitanas do país. Os que ganham menos tiveram queda em seus rendimentos, apesar da renda média ter subido 2,5% na comparação com janeiro e 6,1% em relação a fevereiro de 2006, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE. 


“A alta da renda se concentrou na população com salários mais elevados e mais escolarizada e se localizou no setor da indústria de São Paulo”, disse o gerente da pesquisa, Cimar Azeredo. Os trabalhadores que tinham 11 anos ou mais de estudo (ensino médio completo) tiveram alta acima da média, de 3,8%. Já a metade da população que ganhou menos teve uma redução de 0,4% em seus rendimentos. 


Azeredo explica que tal queda tem relação com o salário mínimo. “Como os que ganham menos têm seus salários atrelados ao salário mínimo, que não aumenta desde abril, seus rendimentos tendem a não se movimentar”, afirmou. Para o economista do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea), Marcelo de Ávila, a alta da renda deve-se à formalização no mercado de trabalho associada à inflação baixa. “O dinamismo na renda se deu devido à formalização da ocupação”, disse Ávila. 


Ele diz que o número de empregados com carteira assinada, cujos salários são mais altos que os dos sem carteira assinada, subiu 4,1% em relação a fevereiro de 2006. Por outro lado, o total de empregados sem carteira registrou uma retração de 2,7% no mesmo tipo de comparação. 


Ele citou uma pesquisa recente do Dieese que revela que os dissídios trabalhistas de 2006 foram os maiores já apurados. Ávila ressaltou que a renda em fevereiro mostra uma recuperação da perda ocorrida em 2003, de 12,6%. “Voltamos para o nível de dezembro de 2002”, afirmou. Em fevereiro de 2007, a renda média real correspondeu a R$ 1.096,30, maior valor desde fevereiro de 2002, quando ficou em R$ 1.097,21. 


Na avaliação do economista Fábio Romão, da LCA Consultores, além da formalização, a expansão do setor industrial, especialmente em São Paulo, cujos salários são superiores à média dos demais setores, também explica a alta da renda. “A indústria vem com resultados melhores de emprego e renda. No caso de São Paulo, o efeito veio da indústria metalúrgica e automobilística”, disse. A renda do setor subiu 10,3% em relação a janeiro e 15,5% na comparação com fevereiro de 2006. 


Romão disse ainda que os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram alta dos postos formais na indústria no primeiro bimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2006. O desemprego ficou em 9,9% em fevereiro, taxa acima da registrada em janeiro, de 9,3%, mas inferior à apurada no mesmo mês do ano passado, de 10,1%. O gerente do IBGE vê o movimento de janeiro para fevereiro como sazonal. 


 


 


 

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