BC compra US$ 4 bi e impede que dólar caia para menos de R$ 2

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O Estado de São Paulo  Editoria: Economia  Página: B-1


Para evitar que o dólar caísse abaixo dos R$ 2, o Banco Central (BC) voltou a surpreender e realizou ontem uma megaintervenção no mercado de câmbio. A primeira novidade surgiu poucos minutos antes das 11 horas, quando a mesa de operações do BC anunciou que faria um leilão de swap cambial reverso de US$ 3 bilhões. Nos leilões feitos desde o dia 20 de abril, o volume das ofertas nesses leilões tinha sempre variado entre US$ 400 milhões e R$ 600 milhões.



O Estado de São Paulo  Editoria: Economia  Página: B-1


Para evitar que o dólar caísse abaixo dos R$ 2, o Banco Central (BC) voltou a surpreender e realizou ontem uma megaintervenção no mercado de câmbio. A primeira novidade surgiu poucos minutos antes das 11 horas, quando a mesa de operações do BC anunciou que faria um leilão de swap cambial reverso de US$ 3 bilhões. Nos leilões feitos desde o dia 20 de abril, o volume das ofertas nesses leilões tinha sempre variado entre US$ 400 milhões e R$ 600 milhões. ‘Vimos um aumento da agressividade das atuações do BC’, disse um analista. Nesse tipo de leilão, o BC compra dólares do mercado e, em troca, oferece papéis cuja remuneração varia de acordo com a taxa de juros.


Sem dar trégua, o BC voltou a atuar no mercado à vista de câmbio à tarde. Pelos cálculos de operadores, as compras superaram US$ 1 bilhão. Por conta da ação do BC, a moeda americana inverteu a mão e subiu 0,15%. ‘Para o tamanho da intervenção, a desvalorização do real foi muito pequena. Esperava uma reação mais forte do mercado’, observou a economista-chefe da Mellon Global Investments, Solange Srour.


O estrategista do banco BNP Paribas, Alexandre Lintz, questionou a opção do BC de atuar no mercado futuro com os leilões de swap cambial. ‘O melhor era continuar priorizando as atuações no mercado à vista’, disse. Para ele, o tamanho maior do mercado futuro faz com que o valor da intervenção tenha de ser mais elevado que o das atuações no mercado à vista. ‘Como o mercado à vista é menor, o BC conseguiria obter o mesmo efeito do leilão de US$ 3 bilhões com valores mais baixos.’


O problema, segundo a economista da Mellon Global, é que as intervenções no mercado à vista acabam produzindo uma pressão adicional de fluxo de moeda estrangeira no País. ‘Com as compras de dólares, os bancos acabam se vendo obrigados a comprar contratos de cupom cambial negociados nos mercados futuros para proteger suas posições vendidas em câmbio’, explicou. Com isso, a taxa de juros embutida nesses contratos fica atrativa e acaba provocando mais entrada de dólares. ‘Com o leilão de US$ 3 bilhões, a taxa desses contratos teve uma queda.’


O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, acha que o BC não conseguirá evitar que o dólar escorregue para abaixo de R$ 2,00. ‘Não tenho dúvida quanto a isso. O que estamos vendo é o BC ir contra a corrente’, disse. Para Thadeu de Freitas, a melhor forma de combater a valorização do real é acelerar a queda dos juros.


Também favorável a uma aceleração da queda dos juros, o estrategista do BNP Paribas acrescentou que a medida deveria ser acompanhada por uma redução das alíquotas de importação. ‘A queda das alíquotas ainda teria o benefício adicional de ajudar a manter a inflação sob controle’, comentou. Para Solange, o BC ainda tem à disposição outros instrumentos de atuação, como a redução dos depósitos compulsórios.


‘Oferta é sinal de fraqueza do BC’


O ex-diretor do Banco Central e sócio da Quest Investimentos, Luiz Carlos Mendonça de Barros, criticou a estratégia do BC de aumentar consideravelmente o volume da oferta no leilão de swap cambial reverso realizado ontem. O BC ofertou US$ 3 bilhões, o maior volume desde a retomada desse tipo de leilão, em 20 de abril. O lote integral de 63.050 contratos de swap cambial reverso com quatro vencimentos foi vendido. “US$ 3 bilhões não é sinal de força, é sinal de fraqueza”, afirmou em entrevista ao Broadcast Ao Vivo, serviço da Agência Estado.


Barros reconhece que, se não fosse por essa intervenção, o dólar teria rompido ontem os R$ 2, mas acredita também que o BC não tem fôlego para continuar atuando tão agressivamente. Desde a retomada desses leilões, as ofertas tinham variado de US$ 400 milhões a US$ 600 milhões. Segundo ele, não se trata de uma nova estratégia do BC. “A estratégia, de nova, não tem nada. Para quem acompanha os mercados há certo tempo, é fácil identificar um padrão quando há queda-de-braço entre o mercado e o BC relativa à taxa de câmbio.”


Para Barros, a agressividade da atuação de ontem pode ser sinal de que as intervenções estão chegando ao fim. “É uma intervenção geométrica, vai num crescendo. No início é quase linear, e na medida em que a queda-de-braço fica mais forte, o BC vai aumentando suas intervenções de forma exponencial. Mas vai ter que parar.”


Para o ex-diretor do Banco Central, só há um meio de o BC evitar que o real se valorize demais: cortar os juros. Barros tem certeza de que o dólar ficará abaixo dos R$ 2 em algum momento no curto prazo, embora isso tenha sido impedido pelas atuações do BC até agora. Segundo suas projeções, a moeda americana deverá chegar a R$ 1,90, R$ 1,85 e ao longo de 12 meses haverá um movimento de recuperação.


Barros acha que o Copom deve cortar a taxa Selic em 0,5 ponto percentual já na reunião de junho, para evitar uma valorização excessiva do real e parar com as compras no mercado de câmbio. “Quanto mais dólar o BC compra, mais segura fica a moeda do País. Eles não estão percebendo isso.” Ele projeta uma Selic em 11,75% no fim do ano e perto de 9% em 2008.


O economista disse ainda esperar por um pouso suave da economia dos Estados Unidos e não aposta para tão logo uma realização de lucros nas bolsas internacionais e na bolsa paulista, que ontem ultrapassou os 50 mil pontos. Segundo ele, “as bolsas vão subir ainda mais”.


 


 

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