Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
O Fórum Econômico Mundial acaba de divulgar uma classificação ordinal de países, segundo seu grau de competitividade, que é um convite à reflexão. Na graduação que vai de 3.0 a 6.0, a Finlândia é o país mais competitivo de todos, o número 1, seguido da Nova Zelândia.Os Estados Unidos da América, principal fonte das inovações tecnológicas no mundo, ocupa, não obstante, a 17ª posição. Curiosamente, entre os dez mais competitivos encontram-se cinco países nórdicos.
Antonio Oliveira Santos
Presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo
O Fórum Econômico Mundial acaba de divulgar uma classificação ordinal de países, segundo seu grau de competitividade, que é um convite à reflexão. Na graduação que vai de 3.0 a 6.0, a Finlândia é o país mais competitivo de todos, o número 1, seguido da Nova Zelândia.Os Estados Unidos da América, principal fonte das inovações tecnológicas no mundo, ocupa, não obstante, a 17ª posição. Curiosamente, entre os dez mais competitivos encontram-se cinco países nórdicos. Segundo a organização Transparência Internacional, a Finlândia é o país, coincidentemente, de menor nível de corrupção.
O Brasil figura nessa classificação, em 57º lugar, em desvantagem, na América Latina, relativamente ao Chile (22º) e ao México (48º); à frente, contudo, da Argentina (74º) e da Venezuela (87º).Entre os países de grande dimensão continental, o Brasil fica em desvantagem, se comparado à China (46º) e à Índia (55º), mas bem á frente da Rússia (70º).
Vários são os fatores que explicam o fato de um país ser mais competitivo que outro. A qualidade de seu sistema educacional, bons governantes, sistema tributário adequado, capacidade de gerar inovações, boa infra-estrutura econômica estão, certamente, entre os critérios estabelecidos pelo Fórum Econômico Mundial, para construir tal “ranking” de competitividade.
A colocação do Brasil não é nada lisonjeira, quando se tem em conta seu potencial de crescimento econômico, tão decantado e pouco realizado, efetivamente. Apontam-se como causas de sua debilidade competitiva, entre outras, a elevada carga tributária, a política de juros altos, o custo do emprego formal, os excessos da burocracia, às práticas políticas condenáveis, o elevado nível de corrupção, a lentidão do Judiciário, a baixa escolaridade de sua população e a má conservação da infra-estrutura econômica.
É extraordinário verificar que, apesar desse rosário de restrições, o brasileiro é empreendedor e possui espírito de iniciativa e inclinação para o risco. Apesar de tudo, o Brasil é altamente competitivo até a porteira da fazenda e a porta da fábrica. Daí em diante, começa o Governo.
Em matéria de competitividade no plano internacional, não se pode deixar de destacar os progressos realizados pelo Brasil, nos últimos vinte anos, no domínio do hoje chamado “agronegócio”, fruto da combinação do investimento em pesquisa e desenvolvimento, levado a cabo por essa notável instituição nacional que é a Embrapa, e a mudança de escala, que aconteceu em paralelo com o deslocamento da fronteira agrícola para o Oeste. No que concerne à atividade industrial, há setores altamente competitivos, quando voltados preferencialmente para o mercado externo, mas os dependentes exclusivamente do mercado interno nem sempre têm escala de produção que lhes garanta competitividade.
Desse rol incompleto de fatores que prejudicam nossa capacidade concorrencial, dentro e fora do país, podem ser destacados, de imediato, como elementos de correção: colocar a Nação acima dos partidos políticos e talvez, corolário desta fraqueza, recuperar nossa infra-estrutura econômica, que sofre, ao contrário do que se diz, menos da falta de recursos do que das indefinições de toda sorte que entorpecem o andamento dos projetos. Esse é o grande “gargalo” que muitos antecipam e que pode comprometer o surto de crescimento a que hoje estamos assistindo.
A “máquina governamental” não funciona com eficácia e eficiência porque é gigantesca e pesada, em que competências de órgãos e atribuições de autoridades chocam-se umas com as outras e muitas delas são repetitivas. Pela necessidade de “ouvir” todos os Ministérios e órgãos “interessados” num determinado assunto, o processo decisório torna-se lento e sempre gera insatisfações e inconformismos.
No rumo de um país mais competitivo, há que separar as medidas de longo prazo, como seria a melhora de nosso sistema educacional, de medidas de curto prazo, como a retomada de projetos de investimento a meio caminho de serem realizados e há anos paralisados, pela falta de decisão política. Enfim, a pergunta que fica no ar, para todos nós, é saber por que, conhecido o diagnóstico, não somos capazes de encontrar a terapêutica necessária.
Publicado no Jornal do Commercio de 28/12/2004, Caderno Opinião, pág. A-17.