Consignado e queda da Selic reduzem taxa média de juros

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Os juros cobrados nos empréstimos bancários atingiram o nível mais baixo em quase sete anos, segundo levantamento feito pelo Banco Central. Entre janeiro e fevereiro, a taxa média praticada pelos bancos passou de 39,9% ao ano para 39,7%, a menor desde julho de 2000, quando teve início a série estatística do BC.

Os juros cobrados nos empréstimos bancários atingiram o nível mais baixo em quase sete anos, segundo levantamento feito pelo Banco Central. Entre janeiro e fevereiro, a taxa média praticada pelos bancos passou de 39,9% ao ano para 39,7%, a menor desde julho de 2000, quando teve início a série estatística do BC. Apesar disso, a taxa ainda é alta comparada a de outros países emergentes.


Esse movimento foi influenciado por dois fatores principais: a recente queda da taxa Selic e a maior procura por empréstimos com desconto em folha de pagamento.


No primeiro caso, os cortes na Selic reduzem o custo de captação dos bancos no mercado -a taxa básica é o principal parâmetro. Se esse custo é menor, a taxa cobrada dos devedores também pode ser menor.


Já o chamado crédito consignado ajuda a puxar para baixo a taxa média no mercado. Enquanto os bancos cobram juros médios de 73,8% ao ano em um empréstimo pessoal comum, a taxa com desconto em folha é de 32,5% ao ano.


No mês passado, segundo dados do BC, os financiamentos com desconto em folha disponíveis no país somavam R$ 50,5 bilhões, ou 25% dos empréstimos oferecidos pelos bancos -descontados os créditos cujos juros são controlados pelo governo, como o financiamento habitacional.


Graças a essa expansão, os juros cobrados de pessoas físicas têm caído mais rapidamente. Entre janeiro e fevereiro, a taxa média dessas modalidades de crédito caiu de 52,3% ao ano para 51,7%. Nos empréstimos a empresas, os juros recuaram de 26,2% ao ano para 26,0%.

Mesmo com essas quedas, não se pode dizer que o custo de um empréstimo no Brasil é baixo. “Antes [a taxa] era alta demais, hoje ela é só alta”, diz o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.


Para a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), os números indicam que as perspectivas para o crédito são positivas. “O cenário de redução da taxa básica de juros e a estabilidade do cenário macroeconômico contribuem para a expansão do volume de crédito, acompanhado por menores taxas de juros dos empréstimos e alongamento dos prazos”, diz a entidade, por meio de nota.


De fato, o volume de crédito disponível no país continua a crescer. Em fevereiro, o saldo total chegou a R$ 747,4 bilhões, alta de 1,1% sobre janeiro.


Mais crédito na economia é um grande estímulo ao consumo e à atividade econômica.

Por outro lado, os novos números do PIB (Produto Interno Bruto) divulgados na semana passada mostram que o peso do crédito na economia brasileira é menor do que se imaginava, o que distancia ainda mais o país da média internacional.


Pela nova metodologia do IBGE, o valor do PIB brasileiro cresceu, o que significa que a relação entre crédito e PIB medida até agora estava supervalorizada. Segundo os dados antigos, essa proporção estava em 34,6% em fevereiro, nível mais alto em 11 anos, embora distante dos 70% observados em outras economias emergentes.


Com a revisão do PIB, a sua relação com o crédito também deve ser alterada. O nível atual dessa proporção, segundo os novos números do PIB, ainda não foi divulgado pelo BC.


Para consumidor, prazo importa mais do que juros


O prazo é mais importante do que a taxa de juros na hora de o consumidor optar por uma compra financiada, segundo informam a Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) e a ACSP (Associação Comercial de São Paulo).


“Não é à toa que o consumidor sempre pergunta para o lojista em quantas vezes ele pode pagar o produto, não qual é a taxa de juros. Ele quer saber se a prestação cabe no orçamento do mês”, diz Miguel de Oliveira, vice-presidente da Anefac.


O consumidor gosta de prazos mais longos, e as instituições financeiras têm hoje mais interesse em esticá-los porque têm mais confiança na estabilidade econômica e porque precisam elevar as vendas, já que caiu a rentabilidade dos investimentos em títulos públicos, na avaliação de Oliveira.


Em dezembro do ano passado, o prazo médio de financiamento de bens no país era de 18 meses, e o máximo, de 36 meses, segundo levantamento da Anefac. Em 2005, o prazo médio era de 16 meses, e, o máximo, de 36 meses. Em 2004, esses prazos eram de 12 meses e 24 meses, respectivamente.


Para a aquisição de veículos, os prazos médio, que, em 2005, era de 28 meses, e o máximo, de 60 meses, subiram para 32 meses e 72 meses, respectivamente, em 2006. “Há potencial para aumento do prazo e também de crédito no país”, diz.


O volume de financiamento para a compra de bens vem subindo desde 2000. No ano passado, somou R$ 10,77 bilhões, valor 5,38% maior do que o de 2005, segundo informa a Anefac com dados do Banco Central. O volume de empréstimo para a compra de veículos foi de R$ 63,47 bilhões em 2006, 25,2% maior do que o de 2005.


Apesar da expansão do crédito, Oliveira diz que o volume é baixo em relação ao PIB brasileiro. “Significa cerca de 34% do PIB [pela metodologia anterior do PIB], quando a média internacional é de 100%. Não tem problema esse percentual crescer quando o país cresce.”


Se não fosse o alongamento dos prazos de financiamento, as vendas estariam desacelerando, na avaliação de Emílio Alfieri, economista da ACSP. “A queda de juros é importante, mas, hoje, o que puxa a venda a crédito é o prazo mais longo.”


De janeiro até a primeira quinzena deste mês, as vendas a prazo, medidas pelo número de consultas ao SPC, subiram 4,6% na comparação com igual período de 2006. O número de consultas ao Usecheque, termômetro das vendas à vista, cresceu 2,8% no período.


Com a expansão dos prazos de financiamento, na avaliação de Alfieri, e também a expectativa de redução das taxas de juros, a previsão da ACSP é que esse percentual de 4,6% de alta das vendas a prazo suba para 5% ao longo deste ano.


Juro cai menos que custo de captação dos bancos


A queda dos juros bancários nos últimos meses teria sido maior se os bancos tivessem repassado totalmente aos devedores o alívio proporcionado pela redução da taxa Selic. Mas, em fevereiro, pelo segundo mês seguido, isso não ocorreu.


Segundo pesquisa do Banco Central, o custo de captação dos bancos caiu de 12,5% ao ano para 12,1% entre janeiro e fevereiro. Ou seja, o custo para captar recursos no mercado caiu 0,4 ponto percentual, e, se não fosse a influência de nenhum outro fator, seria de esperar que os juros cobrados nos empréstimos caíssem na mesma magnitude.


Mas, no mês passado, os juros bancários caíram somente 0,2 ponto percentual. Isso porque parte dos ganhos com o menor custo de captação não foi repassada aos clientes, e sim apropriada pelos bancos, por meio do chamado “spread”.


O “spread” serve para reforçar o lucro dos bancos e cobrir despesas como administrar suas carteiras de crédito -pagamento de funcionários, manutenção de agências e gastos com impostos, por exemplo.


Entre janeiro e fevereiro, o “spread” médio praticado no mercado subiu de 27,4 pontos percentuais para 27,6 pontos. Isso significa que, mesmo que os bancos tivessem um custo de captação igual a zero, ainda assim seriam cobrados juros de 27,6% ao ano daqueles que quisessem contrair uma dívida.


Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, não se deve esperar que a redução da taxa Selic favoreça uma queda mais acelerada do “spread” bancário. “Com tudo mais constante, o “spread” nem deveria cair”, diz Lopes.


Segundo o funcionário do BC, não existe relação entre o nível da taxa Selic e o “spread”, pois o “spread” é influenciado somente pelos custos arcados pelos bancos. Entre setembro de 2005 e o mês passado, a Selic caiu de 19,75% ao ano para 13%. No mesmo período, o “spread” bancário passou de 29,4 pontos para 27,6 pontos.


Lei de Falências


Nesse período, o governo tomou várias iniciativas para tentar reduzir o “spread”, como a nova Lei de Falências, de 2005. Na época, argumentava-se que ela facilitaria a cobrança de dívidas por parte dos bancos e poderia ajudar a baratear o crédito. Entre setembro de 2005 e fevereiro deste ano, o “spread” caiu de 29,4 para 27,6 pontos.


Para Lopes, o efeito de medidas como essa ainda devem ser sentidas com o tempo. Ele reconhece que “o “spread” não caiu com a intensidade que se imaginava”, mas credita o fenômeno às características da recente de expansão do crédito.


Segundo esse raciocínio, a maior procura por empréstimos tem ocorrido, de forma mais forte, entre micro e pequenas empresas e consumidores que não tinham o hábito de contrair dívidas.


E, para emprestar a quem não tem cadastro que possa atestar sua capacidade de pagar suas contas em dia, os bancos estariam cobrando “spreads” mais elevados, para compensar o risco.


Uma maneira de medir esse maior risco seria o nível de inadimplência. Em setembro de 2005, segundo o BC, 4,1% dos financiamentos liberados pelos bancos estavam com parcelas atrasadas por ao menos 90 dias. No mês passado, eram 4,9%.


 


 


 


 

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