Dois dias depois de o governo anunciar um pacote para estimular a economia, o Banco Central colocou um freio no ritmo de queda dos juros, apesar da intensa pressão contrária de membros do próprio governo e do setor privado. Em sua primeira reunião de 2007, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, fixando-a em 13% ao ano, a menor da série histórica do BC. Nos cinco encontros anteriores, as reduções haviam sido de 0,5 ponto cada. A decisão não foi unânime: três dos oito membros da diretoria do BC votaram por mais um corte de 0,5 ponto.
Dois dias depois de o governo anunciar um pacote para estimular a economia, o Banco Central colocou um freio no ritmo de queda dos juros, apesar da intensa pressão contrária de membros do próprio governo e do setor privado. Em sua primeira reunião de 2007, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu reduzir a taxa Selic em 0,25 ponto percentual, fixando-a em 13% ao ano, a menor da série histórica do BC. Nos cinco encontros anteriores, as reduções haviam sido de 0,5 ponto cada. A decisão não foi unânime: três dos oito membros da diretoria do BC votaram por mais um corte de 0,5 ponto. A última queda de 0,25 ponto foi em setembro.
Em comunicado divulgado ao final da reunião, o Copom justificou a redução do ritmo de corte do juro. Lembrou das incertezas persistentes sobre a velocidade de transmissão das reduções de juros feitas desde setembro de 2005, um total de 13, com a decisão de ontem. “Os efeitos das reduções de juros ainda não se refletiram integralmente na economia.”
A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 6 e 7 de março. Com a queda de 0,25 ponto, a economia gerada pela redução (impacto sobre a dívida) é de R$ 1,2 bilhão em 12 meses, segundo cálculo da consultoria Tendências. A taxa de juros real, que hoje está em 8,7%, deve cair para 8,6%, também de acordo com a Tendências. A ata da reunião de hoje será divulgada no dia 1º de fevereiro.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva , o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, viajariam no mesmo avião ontem à noite rumo a Davos (Suíça). E Lula, apurou a agência Folhapress, cobraria de Meirelles explicação para o corte menor nos juros.
Antes, o assunto Selic fora motivo de constrangimento entre Mantega e Meirelles. Ao anunciar as medidas do PAC, Mantega falou sobre a expectativa de queda dos juros neste ano por parte de analistas do mercado financeiro, e aproveitou para dar um pequeno recado ao BC. “O mercado está esperando uma redução da taxa Selic. Uma continuação, viu, Meirelles?”, disse o ministro. Mais tarde, Mantega negou que estivesse pressionando por uma queda mais rápida dos juros e disse que fez “uma brincadeira”.
“Diante das incertezas associadas ao mecanismo de transmissão da política monetária, e considerando que os efeitos das reduções de juros desde setembro de 2005 ainda não se refletiram integralmente na economia, o Copom avalia que a decisão contribuirá para aumentar a magnitude do ajuste a ser implementado”, disse nota do BC. Analistas do mercado financeiro previam corte de só 0,25 ponto percentual como forma de o BC ressaltar sua independência informal.
REAÇÃO. Segundo a Folhapress apurou, o BC lamentou que o anúncio do PAC, adiado algumas vezes, tenha caído na mesma semana do Copom e temia que sua decisão sobre os juros fosse vista como uma reação ao plano e não uma decisão técnica.
É difícil dizer se o PAC ou as declarações de Mantega tiveram influência na decisão do BC. Isso porque, desde julho do ano passado, as atas das reuniões do Copom já afirmavam que, em algum momento, a queda dos juros teria que ser feita com “maior parcimônia”, para evitar um aumento inesperado da inflação.
A justificativa para a cautela era a dúvida quanto ao impacto que a queda dos juros ocorrida desde o final de 2005 terá sobre os preços. De lá para cá, a Selic caiu sete pontos percentuais, e o BC diz que a economia ainda não sentiu, por completo, os efeitos desses cortes.
Por enquanto, é difícil ver pressão inflacionária. No ano passado, o IPCA subiu 3,14% -bem abaixo dos 4,5% da meta do governo. Neste ano, a inflação deve ficar em torno de 4%, também abaixo da mesma meta, reforçando a tese de que há espaço para corte no juro.
CRÍTICAS. Empresários e trabalhadores reagiram com críticas ao corte de 0,25 ponto percentual na Selic decidido pelo Copom. No conteúdo, um ponto quase unânime: o Banco Central arrefeceu a confiança no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), lançado na última segunda-feira pelo governo federal.
Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, “com o PAC, um movimento mais conservador da redução da taxa de juros pode ser um sinal invertido em relação a tudo o que o governo pretende para criar um ambiente favorável à aceleração do crescimento”.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, disse em nota que “nem parece que o Copom integra o mesmo governo que, há apenas dois dias, anunciou um grande e abrangente programa voltado à expansão do PIB”.
“O recuo da taxa básica de juros de 13,25% para 13% ao ano é insuficiente para referendar a confiança dos setores produtivos no PAC e no discurso de crescimento pronunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, afirmou Skaf.
Em nota, a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) reafirmou que manter a política de corte dos juros é essencial para maior crescimento da economia este ano, conforme proposto pelo PAC. Segundo a Firjan, a decisão do Banco Central de dar continuidade à redução da taxa de juros apóia-se no panorama favorável para a inflação.
“Todavia, o Sistema Firjan entende que o crescimento, a taxas mais elevadas e por um período mais longo, requer mudanças estruturais na área dos gastos públicos, sem as quais não haverá redução da carga de tributos no país”, diz a nota.
O presidente da Federação do Comércio do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ), Orlando Diniz, considerou que, em função do anúncio do PAC como um direcionamento para o crescimento do ambiente de negócios no país, a política monetária deveria ter referendado esse novo passo com uma queda maior da Selic. Diniz acrescenta que a rigidez na condução na política monetária e o esforço fiscal de nada adiantam enquanto não houver melhoria na eficiência dos gastos públicos.
Também para a Fecomércio-SP, o corte de 0,25 ponto percentual na Selic é insuficiente para expandir a atividade comercial e a economia brasileira como um todo.
“Embora as reduções efetuadas na taxa de juros, desde o fim de 2005, tenham colocado a Selic na trajetória correta, o custo da dívida pública no Brasil é ainda muito elevado. Além disso, a taxa parece super dimensionada quanto ao cumprimento da meta inflacionária para este ano”, afirma o presidente da entidade, Abram Szajman.
Para o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, é que o anúncio foi “um banho de água fria no morno PAC”. Em nota, a central reivindica urgentemente “uma autêntica agenda voltada para o desenvolvimento, com foco na produção e na geração de empregos” e defende que a meta de crescer 4,5% ao ano não será realizada devido ao “excesso de conservadorismo”.
A Central Única dos Trabalhadores (CUT) inicia sua nota sobre a decisão do Copom com a palavra “decepcionante”. Assim como os demais empresários e sindicalistas, o presidente nacional da entidade, Artur Henrique, liga a decisão ao anúncio do PAC na segunda.