Folha de São Paulo Editoria: Dinheiro Página: B-6
A teoria de que o Brasil vive o melhor momento econômico de sua história, desenvolvida pela consultoria Tendências, é baseada na evolução de vários indicadores.
Folha de São Paulo Editoria: Dinheiro Página: B-6
A teoria de que o Brasil vive o melhor momento econômico de sua história, desenvolvida pela consultoria Tendências, é baseada na evolução de vários indicadores. Para os consultores, depois de 12 anos de estabilidade de preços e o que chamam de “bons fundamentos”, os fatores de risco que resultaram em choques negativos na economia no passado ficaram em segundo plano.
Com isso, dizem, o país deixou para trás os “vôos de galinha”, nome dado pelos economistas aos períodos curtos de expansão do PIB enfrentados pelo Brasil nas últimas décadas.
Isso significaria crescimento sustentado em torno de 4% a 4,5% pelos próximos anos. Pesquisa da Febraban (Federação Brasileira de Bancos) com 46 instituições financeiras mostra que a expectativa para este ano é de 4,16%.
“Não temos como crescer às mesmas taxas chinesas porque já passamos por esse momento durante o milagre econômico”, diz Ana Carla Abrão Costa, economista-chefe da Tendências.
O ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira discorda. Para ele, o Brasil está ficando para trás entre os emergentes. E não é o único. Recente estudo do professor Márcio Holland, da Fundação Getulio Vargas, indica que o Brasil já foi ultrapassado na corrida para ir a patamares mais elevados de desenvolvimento por China, Indonésia e Malásia, entre outros.
Para a Tendências, se o crescimento do PIB se mantiver em torno de 4%, os problemas com gargalos de infra-estrutura não devem aparecer. “Este é o momento ideal para o governo investir nas reformas e na abertura comercial”, diz Costa.
Já com relação à trajetória descendente do dólar, a economista afirma não acreditar que a moeda americana chegue a valer menos do que R$ 1,60 porque “a economia não se sustentaria”.
“Bons fundamentos”
Entre os fundamentos que a Tendências considera corretos estão os mais baixos juros reais da história e em perspectiva descendente. Também estão lá as expectativas de inflação e câmbio baixos e a pequena vulnerabilidade externa e volatilidade do mercado de câmbio.
“Se o governo se mantiver firme no processo de abertura, não cedendo a pressões como fez com os têxteis e os calçados [para os quais elevou tarifas de importação], o país tem tudo para manter o crescimento sustentado”, diz Costa.
Para ela, mesmo com o fato desses setores já terem ganhado competitividade à custa de altos investimentos e de a China manter seu câmbio artificialmente valorizado para ganhar mercado externo, as empresas brasileiras mais eficientes sobreviverão sem nenhuma ajuda do governo.
“Alguns setores ganham, outros perdem, mas, no líquido, o país como um todo se torna mais produtivo”, afirma.
Risco
O estudo da Tendências mostra que o Brasil vive hoje nova realidade, depois de mais de uma década de estabilidade de preços e mais de 20 anos de democracia. O mais importante, no entanto, é que fatores de risco do passado que eram fontes constantes de choques negativos passaram a segundo plano.
“O país apresenta hoje uma situação em que coexistem estabilidade doméstica, baixa vulnerabilidade externa e bons fundamentos e colhe, adicionalmente, os frutos das reformas estruturais que foram colocadas em práticas nas últimas décadas -com alguma ênfase maior nos últimos dez anos”, diz o estudo.
Outro ponto que o trabalho destaca é a estabilidade política. Não só o governo goza de uma situação confortável no Congresso, o que significa um ambiente propício à aprovação dos seus projetos, como também não existem mais problemas de governabilidade.
O único ponto do estudo que mostra ceticismo diz respeito às reformas. “Não só não nos parece claro que o presidente esteja convencido da necessidade de avançar na agenda de reformas mas, pior, não nos parece que seja essa a orientação dos diversos atores em postos-chave da administração pública”, afirma o trabalho. “A análise converge, portanto, para a estagnação.”
A conta por essa ausência de reformas, no entanto, só deverá ser paga, principalmente em termos de crescimento, diz o estudo, no médio prazo.