No Brasil, 40% da gasolina já foi substituída pelo etanol, informa Goldemberg
A Subcomissão de Acompanhamento do Regime Internacional de Mudanças Climáticas, da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), está reunida em audiência pública para debater, com o cientista e ex-ministro da Educação José Goldemberg, o tema “Perspectivas da Convenção do Clima e do Protocolo de Kyoto e o Papel do Brasil”. O debatedor afirmou que, no Brasil, 40% da gasolina já foi substituída pelo etanol da cana-de- açúcar, que gera energia limpa e renovável, ao contrário do etanol do milho.
No Brasil, 40% da gasolina já foi substituída pelo etanol, informa Goldemberg
A Subcomissão de Acompanhamento do Regime Internacional de Mudanças Climáticas, da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), está reunida em audiência pública para debater, com o cientista e ex-ministro da Educação José Goldemberg, o tema “Perspectivas da Convenção do Clima e do Protocolo de Kyoto e o Papel do Brasil”. O debatedor afirmou que, no Brasil, 40% da gasolina já foi substituída pelo etanol da cana-de- açúcar, que gera energia limpa e renovável, ao contrário do etanol do milho. O milho não tem bagaço, precisa de um processo químico para seu processo, enquanto o bagaço de cana gera energia, explicou. Goldemberg disse ainda que 70% das emissões brasileiras de gases-estufa são geradas pelo desmatamento da Amazônia, o que torna o país o quarto emissor mundial, atrás dos Estados Unidos, da China e da Índia.
O ex-ministro José Goldemberg afirmou que o Brasil não pode ficar sem ação em relação ao aquecimento global. Alertou que o desmatamento da Amazônia nos afeta também e citou que as alterações nessa região vão mudar o clima no Brasil. O cientista lembrou que há projeções indicando que a Amazônia virará savana e, com isso, o clima do Nordeste ficará mais seco. Ele sugeriu ainda que o país adote metas de redução do desmatamento da Amazônia, já que se nega a adotar a de redução da emissão de gases, por exemplo.
Em resposta ao senador Marco Maciel (PFL-PE), que defende a instalação, no Brasil, de uma agência das Nações Unidas para discutir meio ambiente, e perguntou por que isso ainda não havia sido feito, o cientista José Goldemberg explicou que o Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA) ainda não é uma agência, mas apenas um programa, e que o país poderia lutar por essa instalação. O presidente da Subcomissão de Acompanhamento do Regime Internacional de Mudanças Climáticas, senador Fernando Collor (PTB-AL), citou requerimento para que seja realizada no Brasil, em 2012, uma conferência marcando os 20 anos da Rio92 – a Rio+20 -, já que nesse ano se encerra o Protocolo de Kyoto.
Goldemberg conduziu a participação brasileira na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente (Rio-92), pois, no período, era secretário interino de Meio Ambiente da Presidência da República.
Goldemberg ainda explicou que o Brasil emite 80 milhões de toneladas de carbono por ano, isso sem incluir a Amazônia que, sozinha, emite 200 milhões de toneladas anualmente. Disse também que, sem a floresta amazônica, o país seria o 18º emissor mundial de gases-estufa – o Brasil é, na verdade, o 4º emissor mundial. A indústria e o comércio do país são responsáveis por 1% do total de gases emitidos no mundo, e a Amazônia, 3%.
O senador Arthur Virgílio ressaltou que o desmatamento da Amazônia não causa prejuízo só ao Brasil, mas a toda a humanidade, e alertou que, se não houver conscientização, o país não será capaz de tomar conta da floresta, e esta poderá ficar sob o protetorado da Organização das Nações Unidas (ONU). Já o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA) ressaltou a necessidade de se fazer zoneamento econômico-ecológico da região, que poderia frear o desmatamento e a degradação da Amazônia, e pediu o apoio do governo federal à implantação desse zoneamento em todos os estados brasileiros. O cientista José Goldemberg afirmou que, apesar de dar trabalho, o zoneamento funciona de verdade, como já ocorreu em São Paulo.
O presidente da Comissão Mista das Mudanças Climáticas, deputado Eduardo Gomes (PSDB-TO), anunciou que, ao contrário do que determinava o ato conjunto de criação da comissão, ela será composta por 11 senadores e 11 deputados, e não mais por seis representantes de cada Casa. Ele destacou que a comissão mista terá a função de organizar as propostas legislativas. Relembrou ainda que a próxima reunião será na terça-feira. O cientista José Goldemberg comentou, após a fala do deputado, que o presidente da República deverá, em algum momento, se engajar e dizer “em alto e bom som” que o governo brasileiro vai tomar medidas em relação ao assunto, por exemplo, escolhendo um interlocutor que debata o tema.
O senador Wellington Salgado (PMDB-MG) mostrou preocupação com o crescimento exacerbado da instalação de usinas de álcool no Triângulo Mineiro. O cientista José Goldemberg concordou com existência de “euforia” na instalação dessas usinas e lembrou que, se a expansão do programa do álcool não for bem conduzida, há o risco de criação de barreiras não-alfandegárias para a exportação da produção. O senador Marconi Perillo (PSDB-GO) citou várias medidas adotadas durante sua gestão no governo de Goiás, como o plano de controle da poluição dos veículos; o aumento de 1% para 5% de áreas conservadas; o financiamento de empresas que adotam o mecanismo de desenvolvimento limpo e o envio, ao Legislativo, de um projeto de imposto ecológico.
O cientista José Goldemberg explicou que a Floresta Amazônica intocada é estável, não aumenta nem diminui a quantidade de CO2 enviada à atmosfera. Disse ainda que em cada hectare existem 100 toneladas de carbono, e que quando ocorre a queima, este se transforma em CO2 e é lançado à atmosfera. Goldemberg destacou também que a “filantropia” proposta pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), de pagar por trechos da floresta mantidos, preservados de pé, não funciona, e destacou a necessidade de investimentos nos mecanismos de desenvolvimento limpo (MDL), ou seja, na criação de mecanismos para diminuir a redução das emissões, que podem ser transformados em créditos de carbono e vendidos na Europa, por exemplo.
No encerramento da reunião, o presidente da subcomissão, senador Fernando Collor (PTB-AL), elogiou as respostas “práticas e sinceras” do cientista e lembrou a necessidade de trabalho conjunto com governo federal por iniciativas concretas que levarão o Brasil novamente à vanguarda, “como estivemos em 1992”.
Agência Senado 14 de março de 2007.