Empresários e trabalhadores reagiram com críticas ao corte de 0,25 ponto percentual na Selic decidido ontem pelo Copom.
Empresários e trabalhadores reagiram com críticas ao corte de 0,25 ponto percentual na Selic decidido ontem pelo Copom. No conteúdo, um ponto quase unânime: o Banco Central arrefeceu a confiança no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), lançado na última segunda-feira com pompa pelo governo federal.
O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, disse em nota que “nem parece que o Copom integra o mesmo governo que, há apenas dois dias, anunciou um grande e abrangente programa voltado à expansão do PIB”.
“O recuo da taxa básica de juros de 13,25% para 13% ao ano é insuficiente para referendar a confiança dos setores produtivos no PAC e no discurso de crescimento pronunciado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, afirmou Skaf.
Para o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Armando Monteiro Neto, “com o PAC, um movimento mais conservador da redução da taxa de juros pode ser um sinal invertido em relação a tudo o que o governo pretende para criar ambiente favorável à aceleração do crescimento”.
A proximidade entre o lançamento do PAC e a decisão mais conservadora do Copom também foi lembrada por Guilherme Afif Domingos, presidente da Associação Comercial de São Paulo.
“Lastimamos a decisão do Copom em reduzir apenas 0,25 ponto a taxa Selic, uma vez que todas as estimativas para a inflação apontam resultados abaixo da meta. Lamentamos que o Banco Central retire o pouco otimismo do mercado, uma vez que, há tão pouco tempo, o governo anunciou um plano para acelerar o crescimento”, afirmou ele, em nota.
Na visão de Mário César de Camargo, presidente nacional da Abigraf (Associação Brasileira da Indústria Gráfica), a decisão do comitê “coloca a política de juros em rota de colisão com o Programa de Aceleração do Crescimento”. Sua avaliação é que o Copom se mostraria em “consonância dentro do mesmo governo” se a redução tivesse sido de no mínimo meio ponto percentual.
Centrais sindicais
Para o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o anúncio foi “um banho de água fria no morno PAC”.
Em nota, a central reivindica “uma autêntica agenda voltada para o desenvolvimento, com foco na produção e na geração de empregos” e afirma que a meta de crescer 4,5% não será realizada neste ano devido ao “excesso de conservadorismo”.
A CUT (Central Única dos Trabalhadores) inicia sua nota sobre a decisão do Copom com a palavra “decepcionante”. Assim como os demais empresários e sindicalistas, o presidente nacional da entidade, Artur Henrique, liga a decisão ao anúncio do PAC na segunda.
“Nem mesmo o anúncio do PAC, sinalização política do governo federal com vistas ao crescimento, retirou o manto da mesmice e da falta de coragem que obscurece a mente desses nobres cavalheiros [do Copom]”, diz ele. E encerra a nota defendendo que o Conselho Monetário Nacional, responsável pela fixação das metas de inflação, seja ampliado e democratizado.
Economistas
“Entendo que havia espaço para cair 0,50 ponto. Mas, depois da forte redução registrada em 2006 na taxa Selic, 0,25 ponto a mais ou a menos não faz tanta diferença”, diz Hugo Penteado, economista-chefe do ABN Amro Asset Management, que para o fim de 2007 projeta a Selic em 11,5%.
Jason Freitas Vieira, economista-chefe da UpTrend Consultoria Econômica, afirma que “o cenário favorecia uma queda de 0,50 ponto”. “Não há perspectiva de inflação futura. Mesmo assim, aumentou o conservadorismo”, avalia.