O Estado de São Paulo Editoria: Economia Página: B-9
Estudo divulgado este mês por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostra que a redução do ritmo de crescimento econômico e da mobilidade social no Brasil foram os principais motivos para o encolhimento da classe média entre 1981 e 2005.
O Estado de São Paulo Editoria: Economia Página: B-9
Estudo divulgado este mês por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostra que a redução do ritmo de crescimento econômico e da mobilidade social no Brasil foram os principais motivos para o encolhimento da classe média entre 1981 e 2005.
Segundo o estudo, produzido entre setembro de 2006 e abril deste ano pelos professores Marcio Pochmann e Eduardo Fagnani, entre 1982 e 2006 o crescimento médio anual do PIB foi de 2,5%, ante 7% entre 1945 e 1980.
“A baixa expansão da economia nacional vem desconstruindo a estrutura social originária do ciclo da industrialização do país”, afirmou Pochmann. “Nas últimas duas décadas e meia, houve sinais crescentes de desproletarização dos trabalhadores urbanos, que perderam a possibilidade de exercer atividade assalariada, e há também a perda da posição relativa e da efetividade em gastos de maior valor unitário e a redução do status social da classe média.”
A 5ª Carta Social e do Trabalho, divulgada pelo Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho da Unicamp, aponta que as raízes da crise social estão no estancamento econômico desde o fim da década de 1970 e na política econômica imposta a partir do governo Fernando Collor.
A Carta é composta por oito artigos que tratam da evolução da estrutura social e ocupacional e das considerações sobre a Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Autor de dois desses artigos, o professor Waldir José de Quadros, do Instituto de Economia, afirmou que o País que não cresce satisfatoriamente não cria oportunidades. “O topo da pirâmide está ainda mais estreito”, disse ele.
Com base no salário mínimo de 2004 e na pesquisa, Quadros trabalhou com uma régua de estratificação em que a alta classe média ganha mais de R$ 2.500; a média classe média, de R$ 1.250 a R$ 2.500; a baixa classe média, de R$ 500 e R$ 1.250; a massa trabalhadora, de R$ 250 a R$ 500; e os miseráveis, abaixo de R$ 250.
Segundo o estudo, em 1981, dos 52.160 declarantes da PNAD, 7.384 não tinham ocupação (14,12%). Em 2005, o número subiu para 22.303 (21,75%). As classes média alta e média representavam 13,7% em 1981 e, em 2005, representaram 12,5%.
“Além disso, a combinação do avanço dos inativos, tanto no número de declarantes quanto nos rendimentos, resulta na maior participação na renda. No início dos anos 80, os inativos obtinham cerca de 10% da renda declarada. E nos últimos anos, a proporção atinge 17%”, afirma Quadros.
Segundo Pochmann, além do baixo crescimento, a maneira como o Brasil se insere na economia mundial, especializado na exportação de bens de baixo valor agregado, também reflete na sociedade. “Mesmo que economia cresça mais, se a base do crescimento for associada a bens de baixo valor agregado, não tem como criar emprego de qualidade”, afirmou.
Segundo o Cesit, de 2000 a 2006, 93% dos empregos criados pagavam até dois salários mínimos. “O Sudeste, que absorveu cerca de 60% do movimento migratório no século 20 hoje expulsa mão-de-obra qualificada. De 140 a 160 mil pessoas vão para o exterior”, disse Pochmann.