Fitch coloca o Brasil a um passo do grau de investimento

Compartilhe:

Jornal do Commercio  Editoria: Economia  Página: A-2 


A agência de classificação de risco Fitch melhorou nesta quinta-feira as notas concedidas ao Brasil e deixou o País a um degrau do chamado grau de investimento – nível no qual só são colocados emissores de dívida com baixa probabilidade de dar calote. A classificação de longo prazo em moeda local e estrangeira do País foi elevada de BB para BB+. A mudança anterior havia ocorrido em junho de 2006.

Jornal do Commercio  Editoria: Economia  Página: A-2 


A agência de classificação de risco Fitch melhorou nesta quinta-feira as notas concedidas ao Brasil e deixou o País a um degrau do chamado grau de investimento – nível no qual só são colocados emissores de dívida com baixa probabilidade de dar calote. A classificação de longo prazo em moeda local e estrangeira do País foi elevada de BB para BB+. A mudança anterior havia ocorrido em junho de 2006.


Segundo a Fitch, a alteração reflete as melhoras significativas do balanço de pagamentos brasileiro, com base nas políticas macroeconômicas estáveis e um aumento da poupança doméstica. “O acúmulo de reservas internacionais – US$ 36 bilhões somente neste ano – ressalta o contínuo fortalecimento da balança de pagamentos externa e a resistência aos choques externos”, afirmou Shelly Shetty, diretora sênior do grupo de soberano da Fitch.


Em comunicado, a Fitch destacou as reservas recordes estrangeiras de US$ 122 bilhões que, segundo a agência, devem superar US$ 130 bilhões até o fim do ano, o equivalente a 150% da dívida externa líquida de curto prazo. Segundo a Fitch, as reservas internacionais refletem o saudável superávit em conta corrente e os investimentos diretos, mas também o fluxo “potencialmente volátil” atraído pelas altas taxas de juros brasileiras. A agência destacou que as reservas também ajudam o País em caso de um ambiente global econômico e financeiro menos favorável.


A Fitch afirmou que a recente revisão para cima do PIB brasileiro contribuiu para reduzir a dívida do governo de 75% para 67% do PIB em 2006. “A carga mais baixa da dívida pública, combinada com o crescimento potencialmente maior, tem ajudado modestamente a dinâmica da dívida brasileira. Esperamos que a dívida caia para 64,5% do PIB em 2010”, diz o texto.


Segundo a agência, a estabilidade macroeconômica brasileira continua bem ancorada, apoiada pela baixa inflação, pelo fortalecimento da taxa de câmbio e pelas políticas fiscais consistentes com o crescimento estável da dívida do governo.


Chance 


O diretor-executivo da Fitch Ratings no Brasil, Rafael Guedes, disse que a probabilidade de o Brasil vir a ser grau de investimento em ano é de cerca de 20%, seguindo análise de outros países que alcançaram essa posição desde 2000. De acordo com ele, cada vez mais a agência tem optado por alterar primeiro a perspectiva e só depois elevar o país em grau de investimento, mas é possível também uma elevação sem que essa mudança ocorra antes.


Guedes explicou que o impacto do “investment grade” sobre os investidores se dá de formas distintas. “Os fundos mais agressivos podem sair do País, mas vão ser substituídos por outros que não consideravam aplicar no Brasil”, declarou.


Para Guedes, se de um lado houve uma melhora “substancial e inegável” nas contas externas, de outro, as contas internas representam a maior fragilidade do País. Segundo ele, a relação dívida bruta/PIB de 67% no Brasil representa o dobro da média de países que são grau de investimento. “O Brasil tem um endividamento muito alto. É como um nadador que se lembra de usar as pernas, mas se esquece dos braços”, comparou. “O Brasil precisa melhorar o perfil da dívida, mas, infelizmente, ela não tem decrescido com rapidez”.


Essa redução, segundo Guedes, pode ser obtida com cortes de gastos e com as reformas estruturais, como a fiscal e a da Previdência. “É isso que o Brasil precisa para voltar a crescer”.


Mantega espera que outras agências internacionais sigam a Fitch


O ministro da Fazenda, Guido Mantega, espera que as demais agências de classificação de risco sigam a Fitch e elevem, em breve, a classificação da nota brasileira. “Elas não vão ficar para trás”, disse. “É só olhar para os fundamentos e aguardar que elas (agências) trabalhem e façam suas avaliações”, completou .


Ao comentar a melhora dos fundamentos econômicos do país, que estaria contribuindo para a melhora do rating, o ministro afirmou que “o céu é o limite” para as reservas internacionais brasileiras. “Não há um limite para o aumento das reservas. Por enquanto o céu é o limite”, disse Mantega nesta quinta-feira. Ele acrescentou que a atuação do Banco Central está contribuindo para reduzir o risco e melhorar a capacidade de pagamento do País.


Mantega reconheceu que a melhora da classificação poderá estimular uma entrada adicional de dólares no País, o que contribuirá para manter o real valorizado, mas afirmou que o efeito é “inevitável”. “É o preço do sucesso. Esse tipo de problema que se coloca (maior fluxo de dólares) é inevitável porque se o Brasil é mais sólido, é melhor, você vai atrair a atenção dos investidores.”


A Fitch elevou para “BB+” a nota do Brasil, deixando o país a um passo do grau de investimento. Pelos critérios da Moody’s e da Standard & Poor’s – outras avaliadoras de riscos soberanos -, o País ainda está a dois degraus do grupo de países considerados mais seguros para investimentos.


Para Mantega, o recente ajuste do cálculo do PIB pelo IBGE e as reuniões realizadas por ele com as agências no mês passado contribuíram para a melhora na avaliação anunciada pela Fitch. “O trabalho de esclarecimento sempre ajuda porque mostra uma realidade mais clara que às vezes eles não conseguem verificar sem a nossa colaboração”, argumentou.


Mantega avalia que a melhora na avaliação do risco permitirá que as empresas brasileiras consigam recursos com taxas de juros menores no exterior e que o governo financie sua dívida externa a taxas mais baratas. “E isso atrai investimentos estrangeiros de qualidade”, afirmou.


Ao ser questionado sobre se o grau de investimento poderá vir em 2008, Mantega respondeu que prefere não fixar data. “Isso não me preocupa. O que me interessa é que haja esse reconhecimento, o que permite que o Brasil usufrua das vantagens de ser um país seguro”, afirmou.


Apesar da comemoração com a melhora na classificação de risco do Brasil, Mantega classificou de “equívoco” a Fitch analisar o País com base na dívida bruta do setor público e não da dívida líquida. Se não fosse isso, segundo ele, o Brasil teria o grau de investimento. Mantega disse que a Moody”s, agência americana, também faz o mesmo. “É a mesma coisa que analisar o endividamento de uma empresa e não olhar o fluxo de caixa dela”, afirmou.


De acordo com o ministro, o Brasil tem uma grande caixa, que são as reservas internacionais brasileiras que estão em US$ 122,4 bilhões. Ele destacou que as reservas não são computadas. “O que não me parece adequado, mas mesmo assim fomos promovidos”, afirmou.


Compulsório só baixará com corte dos juros


Mantega também cobra de bancos oficiais spreads mais baixos


O ministro da Fazenda, Guido Mantega, mandou um recado claro aos bancos: eles só terão mais dinheiro disponível para emprestar se reduzirem o juro cobrado nos financiamentos a pessoas e empresas. “Só vamos pensar em mexer nos compulsórios depois que os bancos privados reduzirem os spreads”, disse. Os depósitos compulsórios são os recursos que os bancos são obrigados a recolher ao Banco Central. O spread bancário é a diferença entre o custo de captação dos bancos e o juro cobrado dos clientes.


Mantega também cobrou dos bancos oficiais – Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, BNDES, Banco do Nordeste e Banco da Amazônia – que continuem reduzindo os spreads das suas linhas de financiamento para pressionarem as outras instituições a fazerem o mesmo. “Fazemos questão que os bancos públicos estejam à frente no processo redução das taxas de juros e dos spreads. Mas tendo em vista a manutenção do equilíbrio econômico”, disse o ministro, que nesta quinta-feira se reuniu separadamente com os presidentes da Caixa, Maria Fernanda Coelho, e do Banco do Brasil, Antonio Francisco Lima Neto.


Na avaliação do ministro, os bancos oficiais têm cumprido a determinação de aumentar o crédito e baixar as taxas de juros. Ele citou como exemplo a ampliação dos empréstimos habitacionais que, impulsionados pela Caixa, avançaram 23% no primeiro trimestre deste ano em relação ao mesmo período de 2006.


Nas duas últimas semanas, o ministro reforçou a pressão sobre os bancos para reduzirem os juros dos empréstimos bancários, que têm caído em doses mais lentas do que a taxa de juros básica da economia, a Selic. Mantega acha que os bancos podem fazer mais e vai se reunir nos próximos dias com dirigentes da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Além disso, novas medidas estão sendo estudadas pelo Ministério da Fazenda para reforçar o pacote anti-spread lançado no ano passado.


As últimas declarações de Mantega sobre compulsórios causaram desconforto no Banco Central (BC), que é responsável pela definição dos compulsórios. O presidente do BC, Henrique Meirelles, segundo fontes, prefere tratar o assunto reservadamente e ficou irritado com a pressão pública que Mantega tem feito para a redução dos compulsórios porque a medida tem influência na política monetária conduzida pelo BC.


Nos últimos dias, no entanto, o ministro tem sido mais cauteloso ao tratar publicamente sobre o assunto. Nesta sexta-feira, Mantega disse que, por enquanto, não há nada decidido em relação aos compulsórios – embora ele próprio tenha iniciado o debate recente quanto à sua redução.


Entre as hipóteses em estudo, o BC poderá adotar um cronograma de redução dos compulsórios a ser divulgado antecipadamente. A idéia em estudo é de que, ao longo do tempo, as diferentes alíquotas hoje existentes para os vários tipos de compulsórios convirjam para um único valor.


País capta R$ 750 milhões no exterior


Taxa de juros é de 8,938% ao ano, a menor para papel com rentabilidade prefixada


Em meio ao clima de euforia na economia doméstica e internacional, o Tesouro Nacional fez nesta quinta-feira nova emissão de títulos da dívida externa em reais com vencimento em 2028 e, pela primeira vez, obteve juros de um dígito, abaixo de 10% ao ano. Foram vendidos R$ 750 milhões, com uma taxa de juros de 8,938% ao ano, a menor da história para um papel com rentabilidade prefixada (com juros definidos no momento da venda) da dívida brasileira, tanto externa como interna.


Os títulos em reais vendidos no mercado internacional transferem o risco de desvalorização do câmbio para o investidor e, como têm os juros fixos, conferem maior previsibilidade para a administração da dívida. Por outro lado, em um ambiente de valorização contínua do real, podem ser mais caros do que emissões em moeda estrangeira. Com a nova venda, o Tesouro conta agora com R$ 3 bilhões do BRL 2028 em mercado, ficando na mesma faixa dos outros dois papéis atrelados ao real, que vencem em 2016 e 2022. O BRL 2016 tem R$ 3,4 bilhões e o BRL 2022, R$ 3 bilhões.


O Tesouro poderá ainda dar seguimento à operação no mercado asiático, com emissão adicional de até R$ 37,5 milhões. Até o fechamento desta edição, a decisão sobre essa operação ainda não havia sido tomada.


Melhora


A taxa de juros do bônus vendido nesta quinta-feira mostrou que houve uma melhora significativa nas condições de financiamento da economia brasileira no mercado internacional e coincidiu com a elevação da classificação de risco do País, concedida pela agência internacional Fitch.


Na primeira emissão do BRL 2028, em fevereiro, o custo foi de 10,68% ao ano. Em 20 de março, na primeira reabertura de venda, o juro ao investidor recuou para 10,28% anuais, na ocasião a menor taxa para títulos em reais. E agora caiu para menos de 9%.


“Uma emissão com essa taxa (inferior a 9% ao ano) seria coisa inimaginável para qualquer agente econômico há quatro ou cinco anos”, afirmou o secretário do Tesouro Nacional, Tarcísio Godoy, na Comissão Mista de Orçamento. Ele disse ainda que é importante ter consolidado um mercado de títulos externos de longo prazo para que as empresas brasileiras tenham melhores condições de financiamento.


Juros 


Segundo fontes, o objetivo da emissão desta quinta-feira foi “consolidar a curva de juros em reais”, o que significa ter volumes significativos de papéis com diferentes vencimentos para que os investidores tenham uma referência clara de taxa de juros de longo prazo em moeda local e tomem suas decisões.


O Tesouro Nacional informou que os papéis colocados nos mercados europeus e americano saíram ao preço de 112,25% do seu valor de face, o que fez o juro efetivo do título ficar em 8,938% ao ano. A liquidação financeira da operação será no dia 17 de maio e os juros serão pagos nos dias 10 de janeiro e 10 de julho de cada ano até o vencimento em 10 de janeiro de 2028. A emissão foi conduzida pelos bancos Deutsche e HSBC e os co-líderes são o Itaú Europa e BB Securities.


 


 


 

Leia mais

Rolar para cima