Importação freia emprego industrial

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A farra das importações nos últimos três anos freou o emprego industrial no País. A conclusão é de uma pesquisa feita a pedido do Estado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Desde 2004, quando começou a onda de valorização do real frente ao dólar, a importação de matérias-primas, componentes e produtos industrializados aumentou 45,2%, empurrada pela desvalorização de 26% da moeda americana.

A farra das importações nos últimos três anos freou o emprego industrial no País. A conclusão é de uma pesquisa feita a pedido do Estado pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Desde 2004, quando começou a onda de valorização do real frente ao dólar, a importação de matérias-primas, componentes e produtos industrializados aumentou 45,2%, empurrada pela desvalorização de 26% da moeda americana.


No mesmo período, o emprego ficou estagnado (alta de apenas 0,1%) na indústria de transformação, apesar do crescimento acumulado de 10,4% do Produto Interno Bruto (PIB). “Os números indicam que boa parte da expansão da demanda está sendo abastecida por importações, que não criam e até fecham vagas no mercado de trabalho”, diz o economista-chefe do Iedi, Edgard Pereira.


Na indústria do vestuário, o emprego caiu 8,8%, enquanto a importação desses produtos cresceu 136,5% de 2004 a 2006. Não é um exemplo isolado. Entre os fabricantes de máquinas e equipamentos para uso industrial e de escritório, incluindo bens de informática, houve redução de 5,6% no pessoal, com ampliação de 53,5% das importações.


Na indústria têxtil, a concorrência dos itens de origem estrangeira aumentou 81,8% e as empresas fecharam 0,6% dos postos de trabalho.


Só no ano passado, a cadeia têxtil demitiu 100 mil pessoas, diz o diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel. Segundo ele, entre 1999 e 2005 o setor mais que dobrou as exportações, que passaram de US$ 1 bilhão para US$ 2,2 bilhões e garantiu superávits sucessivos na sua balança comercial. Em 2006, as vendas externas cresceram 5% e as importações dispararam, o que resultou num déficit de US$ 60 milhões.


Mantidas as condições atuais, o superintendente da Abit estima que a indústria têxtil e de confecção fechará 2007 com saldo negativo de US$ 500 milhões a US$ 1 bilhão, o que levaria ao fechamento de mais de 200 mil postos de trabalho. “O que está sendo feito no País é certamente um crime social cambial”, diz Pimentel, que ressalta ainda problemas vindos da falta de acordos internacionais, importações asiáticas ilegais e alta carga tributária.


Catástrofe


Na Criações D’Anello, fabricante paulista de jaquetas de couro, nylon e ternos, mais de 30% dos postos de trabalho foram fechados, dos quais metade no final de 2006. “É uma catástrofe”, diz Francesco D’Anello, dono da empresa, que não divulgou o número de funcionários demitidos.


O câmbio valorizado, segundo ele, derruba a competitividade do produto brasileiro no mercado externo. O terno mais barato da D’Anello custa R$ 399 no atacado, enquanto produtos similares importados da China e da Índia são oferecidos a US$ 20 no varejo.


No ano passado, os fabricantes de máquinas e equipamentos demitiram quase 4,5 mil pessoas. Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Newton Mello, em parte devido a concorrência das máquinas chinesas. “São máquinas simples , de baixa tecnologia, que não trazem benefício para a indústria brasileira a não ser o preço baixo.” Elas são vendidas no País pela metade do preços das nacionais.


As importações de máquinas da China somaram US$ 527 milhões em 2006, 92% mais que em 2005. Este ano já começou com crescimento de 142%, saltando de US$ 35 milhões em janeiro de 2006, para US$ 85 milhões este ano. “Tudo decorrência do câmbio”, queixa-se o presidente da Abimaq.


O estudo do Iedi também mostra setores que aumentaram o uso de mão-de-obra, apesar do crescimento nas importações. Na indústria de alimentos e bebidas, por exemplo, a oferta de trabalho cresceu 16% e a importação, 36,5%. Na metalurgia básica a alta no emprego foi de 6,5% e na importação, 106%.


Para chegar a esses números o Iedi se baseou em dados da pesquisa do emprego industrial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e das importações registradas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O economista-chefe, Edgard Pereira explica, que alguns segmentos da indústria não foram analisados, devido a incompatibilidade entre as classificações do IBGE e do Ministério do Desenvolvimento.

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