Importação maior ainda tem efeito benéfico

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Gazeta Mercantil  Editoria: Nacional    Página: A-6


Compras de bens de capital sobem 24,4% enquanto a de bens de consumo,15,4%, nos 12 meses até fevereiro. O ritmo forte de crescimento das importações, determinado pela conjuntura cambial favorável, pode produzir um quadro econômico bem menos ruim do que tem sido pintado.

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Compras de bens de capital sobem 24,4% enquanto a de bens de consumo,15,4%, nos 12 meses até fevereiro. O ritmo forte de crescimento das importações, determinado pela conjuntura cambial favorável, pode produzir um quadro econômico bem menos ruim do que tem sido pintado. O Brasil de hoje não desfruta dos efeitos maléficos que o abateram na década de 90, especificamente quando dois eventos contribuíram para desestruturar a indústria local: o rápido processo de abertura comercial aliado à âncora cambial do Plano Real.


O presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet), Luís Afonso Fernandes Lima, diz acreditar que a expansão acelerada das importações observada hoje tem um perfil benéfico. Isso porque, diferentemente do que ocorreu na década passada, o País tem comprado mais bens de capital do que de consumo. Nos 12 meses encerrados em fevereiro passado, o quantum importado pelo Brasil cresceu 17,8%, enquanto as aquisições de bens de capital aumentaram 24,4% no mesmo período ficando, inclusive, acima da média histórica. Já as importações de bens de consumo subiram 15,4%.


“O boom de importações ocorrido logo após o Plano Real promoveu o sentimento de que esse fenômeno é maléfico ao País”, afirma Lima. “Naquela época houve uma explosão de compra de bens de consumo e pouco crescimentos das aquisições de bens de capital de outros países”, acrescenta.


Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, compartilha a opinião, acrescentando que discorda inclusive da tese sobre uma possível desindustrialização que tem sido aventada: “A conjunção passada de abertura da economia e Plano Real, aí, sim, dizimou a indústria”, diz. “Quem sobreviveu era realmente competitivo. Mas hoje a indústria nacional é muito mais forte do que naquele tempo”, salienta o especialista.


Fernanda De Negri, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), lembra que, nos anos 90, o processo de abertura foi tão rápido – com alíquotas de importação caindo de um ano para outro – que a indústria não teve tempo para se adaptar. “O custo de ajustamento foi o recuo dos empregos e da produção.”


Mesmo com um histórico ruim, o consenso entre economistas é que importações são benéficas para qualquer país, porque lubrificam a economia ao forçar o aumento da eficiência da indústria local, além de trazer produtos a preços mais baixos aos consumidores.


Outro lado


José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil, observa que a importação de bens de consumo tem desestimulado a produção local, como está ocorrendo em empresas como a Suggar e a Black&Decker. Ambas deixaram de produzir no Brasil para importar da China itens como ferro de passar roupa e torradeiras elétricas.


“As exportações de manufaturados estão patinando enquanto as importações de componentes sob o regime de drawback cresceram 26%, de US$ 7,22 bilhões em 2005 para US$ 9,11 bilhões no ano passado. O descompasso sinaliza substituição, com benefícios, de produção local por importados.”


Lima pondera que, nos 12 meses encerrados em fevereiro de 2007, o quantum exportado pelo Brasil cresceu 3,6%, mas as vendas externas de manufaturados apresentaram desempenho abaixo da média (alta de 1,7%), enquanto as vendas de básicos subiram 7,3% e as de semimanufaturados, 4,6%.


No entanto, Vale ressalva que, no agregado da indústria, a situação está boa. O economista destaca setores como o de açúcar e álcool, petróleo, mineração, papel e celulose, máquinas e equipamentos, informática e serviços como os que estão conseguindo manter em alta suas exportações. Por outro lado, diz, não há como escapar do fato de que segmentos como têxtil, calçados e móveis estão sendo prejudicados. “Fato é que muitos setores estão indo muito bem e alguns estão indo muito mal.”


Fernanda complementa o raciocínio ressaltando que esses setores que estão sentindo perdas alegando razões cambiais coincidentemente já estavam “sofrendo” com a concorrência dos produtos chineses, que têm ingressado no País intensivamente. “Não sei nem se, neste caso, uma desvalorização ajudaria”, diz a economista do Ipea.


Riscos à frente


Muito embora até o momento o perfil das importações indique uma situação positiva para a economia brasileira, especialistas concordam que esse panorama pode mudar a continuar a forte apreciação do real frente ao dólar. O cenário para o curto prazo é o de que a valorização continuará por causa da liquidez da economia mundial, que ainda continua alta, e pelos próprios volumes de recursos das exportações que ingressam no País.


Para evitar ao máximo os efeitos negativos que o câmbio pode trazer à economia brasileira no futuro, o governo federal deveria traçar já uma política industrial que seria articulada com a tecnológica, educacional e cultural, na avaliação do diretor de Desenvolvimento de Negócios da Fundação Instituto de Administração (FIA) e especialista em comércio exterior, Celso Grisi.

“Importações são sempre saudáveis a qualquer economia, desde que vinculadas a políticas industriais que funcionem.”

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