Folha de São Paulo Editoria: Dinheiro Página: B-3
Maio está se tornando um mês histórico para o comércio exterior no Brasil. Depois de o dólar ter rompido para baixo a barreira dos R$ 2, na semana passada, as importações devem bater, em maio, o recorde de US$ 100 bilhões no acumulado dos últimos 12 meses.
O cálculo foi feito com base no boletim da Funcex (Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior), que foi divulgado ontem, de, neste mês, as importações fecharem em US$ 9,9 bilhões.
Folha de São Paulo Editoria: Dinheiro Página: B-3
Maio está se tornando um mês histórico para o comércio exterior no Brasil. Depois de o dólar ter rompido para baixo a barreira dos R$ 2, na semana passada, as importações devem bater, em maio, o recorde de US$ 100 bilhões no acumulado dos últimos 12 meses.
O cálculo foi feito com base no boletim da Funcex (Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior), que foi divulgado ontem, de, neste mês, as importações fecharem em US$ 9,9 bilhões. Se o número estiver correto, as importações acumuladas dos últimos 12 meses somam US$ 100,6 bilhões.
Segundo a Funcex, os números preliminares de maio indicam que as exportações brasileiras devem fechar este ano em US$ 157 bilhões, o que significa uma alta de 14,2% em relação ao ano passado, e as importações, em US$ 114 bilhões, uma alta de 24,7% em comparação a 2006. A projeção do saldo comercial para o ano é de US$ 43 bilhões.
Ao comentar as duas barreiras psicológicas que devem ser quebradas em maio, o dólar abaixo de R$ 2 e as importações acima de US$ 100 bilhões, o economista Fernando Ribeiro, da Funcex, fez a seguinte afirmação: “Não foi mera coincidência, porque um afeta o outro, mas, coincidentemente, as duas coisas aconteceram ao mesmo tempo”, diz ele.
A quebra da marca histórica de US$ 100 bilhões das importações traz à tona a controversa discussão se o dado é ou não positivo para a economia brasileira. A polêmica é se as importações estariam ou não roubando produção e emprego do Brasil.
Para Fernando Ribeiro, esse número é extremamente positivo e só traz benefícios para o país. O Brasil, a seu ver, ainda é uma economia fechada e que precisa se abrir mais para poder ampliar seus investimentos, ganhar competitividade e aumentar as exportações.
Mesmo com os US$ 100 bilhões, ainda assim as importações representam apenas cerca de 10% do PIB no Brasil, um percentual muito pequeno em relação aos demais países emergentes.
Nos países asiáticos, por exemplo, incluindo a China, as importações variam de 25% a 30% do PIB. São países que importam para exportar, como é o caso da China.”O Brasil parece que começa, agora, de uma certa forma, a trilhar esse caminho”, diz.
Fernando Ribeiro gosta de lembrar o exemplo do Japão para mostrar que esse aumento de importações não tem necessariamente reflexos negativos sobre a economia. Nas décadas de 50 e 60, o Japão tinha uma indústria têxtil forte e que foi desaparecendo ao longo do tempo. Hoje, a indústria têxtil no Japão é irrelevante e o país se tornou uma potência econômica. A China começa a seguir pelo mesmo caminho.De acordo com Fernando Ribeiro, se o país cresce a taxas pequenas, o motivo não é o aumento das importações, e sim a política macroeconômica, que pode não ter adotado, até agora, um modelo capaz de incentivar o crescimento de setores mais dinâmicos da economia.
Pessimismo
Já José Augusto de Castro, vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), tem uma visão mais pessimista. Ele acha que a economia brasileira se tornou muito dependente do desempenho da economia mundial, principalmente da China e dos EUA.
Segundo ele, se houver qualquer problema no mundo, as exportações despencam e o país começará a ter problemas na balança comercial.
“O Brasil depende de o mundo continuar voando em céu de brigadeiro”, diz. De acordo com Castro, o que garantem as exportações são os elevados preços das commodities, que, para surpresa de muitos analistas, continuaram em alta neste ano. “O Brasil não tem sustentabilidade no comércio exterior.”