Inadimplência sobe sem riscos para demanda

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A forte expansão do crédito ao consumidor e o aumento da demanda interna levaram a um aumento dos níveis de inadimplência nos últimos meses em comparação com iguais períodos dos anos anteriores. Como a evolução da massa salarial foi pouco vigorosa, a renda extra recebida pelas famílias acabou sendo insuficiente para garantir o pagamento de todas as dívidas assumidas. 


A taxa de inadimplência medida pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) chegou a 6,3% em fevereiro, acima dos 6,1% de 2006. Apesar de mais alto, esse número está abaixo da média histórica de 6,7%.

A forte expansão do crédito ao consumidor e o aumento da demanda interna levaram a um aumento dos níveis de inadimplência nos últimos meses em comparação com iguais períodos dos anos anteriores. Como a evolução da massa salarial foi pouco vigorosa, a renda extra recebida pelas famílias acabou sendo insuficiente para garantir o pagamento de todas as dívidas assumidas. 


A taxa de inadimplência medida pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) chegou a 6,3% em fevereiro, acima dos 6,1% de 2006. Apesar de mais alto, esse número está abaixo da média histórica de 6,7%. Os economistas ainda não vêem esse dado como motivo de preocupação. “É um patamar um pouco mais alto, mas está longe de comprometer o desempenho do comércio varejista”, diz Emílio Alfieri, da ACSP. 


Em Recife, também houve aumento na inadimplência. A taxa na região metropolitana subiu 8,7% em janeiro ante igual mês de 2006, segundo dados da Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife (CDL). A entidade considera inadimplente quem não paga uma conta até 30 dias depois do vencimento. 


Apesar de o ingresso de novos nomes no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) ter caído 7% na comparação com 2006, menos pessoas que estavam com seus nomes na lista de devedores conseguiram quitar as dívidas na capital pernambucana. O resultado foi o aumento do número de inadimplentes. “Quem já estava devendo não conseguiu se recuperar, mas quem tem as contas em dia está mais cauteloso”, afirma Hugo Philippsen, superintendente da CDL Recife. 


Para Philippsen, a maior oferta de crédito no ano passado levou muitas pessoas a se endividar em excesso, movimento que não está mais se repetindo, por isso a redução do ingresso de nomes no SPC. A expectativa da CDL para o restante do ano é que o patamar histórico de 6% a 8% de pagamentos em atraso se mantenha. 


Após um crescimento expressivo da concessão de crédito, é de se esperar elevações na quantidade de pessoas com dívidas em atraso, explica Fernando Montero, economista-chefe da Convenção Corretora. Em janeiro deste ano, a relação crédito/PIB chegou a 34,3%. É um número bem maior do que o de janeiro de 2003 – 23,6%. Na comparação com 2006, o movimento foi semelhante, já que esse percentual estava em 31%. 


Essa expansão do crédito foi acompanhada da evolução positiva da massa salarial, mas em menor escala. Entre julho do ano passado e janeiro de 2007, o crédito à pessoa física, segundo dados do Banco Central, aumentou 6,9% em termos reais (descontada a inflação). Já a massa salarial total (que inclui o rendimento dos trabalhadores e de aposentados), avançou 3%, pelas estimativas da LCA Consultores. “Mesmo com a disparidade entre os dois indicadores, os dados do BC mostram que a inadimplência manteve-se praticamente estável na casa dos 7,5% nesse período”, afirma Adriano Pitoli, da Tendências Consultoria Integrada. 


A saída para as lojas é a melhor seleção na concessão de crédito. Foi o que fez a rede varejista Lojas Cem. Mesmo com a inadimplência controlada na casa dos 5%, a empresa decidiu vender sem entrada apenas para antigos clientes. “Corremos o risco de vender menos, mas é o preço a ser pago”, diz Valdemir Coleone, superintendente empresa. 


A cadeia de lojas de calçados Esposende, com 42 unidades em diversos Estados do Nordeste, fez o mesmo. “Desde o ano passado notamos uma piora na inadimplência. E adotamos critérios mais rígidos na concessão do crédito”, diz Eduardo Castro, diretor-comercial da empresa. Em 2006, as contas em atraso representavam de 4% a 5% nas vendas e neste ano houve alta de 5%. A varejista usa nesses cálculos os débitos que não foram quitados no dia do vencimento. 


Mas com essa maior seleção, o executivo acredita que os atrasos seguirão o mesmo ritmo do ano passado ao longo de 2007. “Janeiro e fevereiro são meses mais complicados, porque há muitas contas a pagar, mas depois deve haver recuperação”, explica. 


Em Salvador, a inadimplência ficou em 7,5% em janeiro, mesmo percentual apurado em igual mês de 2006. No entanto, a tendência para fevereiro é de alta. “Deve ocorrer pequeno aumento em relação a janeiro. Em março, podemos ter o pico do ano devido às despesas com compras de Natal, material escolar e gastos no Carnaval”, diz o gerente de operações da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Carlos Roberto de Oliveira. 


O aumento da quantidade de dinheiro disponível para crédito tem pressionado as financeiras a efetuar maiores desembolsos, o que também ajuda a explicar a inadimplência, afirma Oliveira. “A oferta tem ficado superior à demanda. Isso faz com que as financeiras busquem um tomador menos qualificado, que muitas vezes já está comprometido com outro empréstimo ou com atraso em outro financiamento”, avalia. 


Fábio Silveira, da RC Consultores, diz que o crédito consignado, onde a inadimplência é zero, tem escondido as dívidas desses tomadores menos qualificados. Pelos seus cálculos, que excluem o crédito consignado da taxa de inadimplência divulgada pelo BC, a porcentagem de consumidores com dívida em atraso teria chegado a 27,9% em janeiro, em vez dos 10,9% apurados pela entidade. No entanto, ele aposta que o crescimento da economia dará fôlego para que os consumidores saldem as dívidas. Devido a isso, projeta expansão de 7,5% nas vendas do varejo neste ano, acima dos 6,2% de 2006. 


 


 


 

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