Inclusão digital de 32 milhões

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O Brasil tem 32,1 milhões de cidadãos com idade acima de dez anos que acessam a internet. O número parece grande, mas representa apenas 21% da população, o que põe o Brasil no 62º lugar no ranking de nível de acesso no mundo, e em 4º lugar na América Latina, atrás de países como Costa Rica, Guiana Francesa e Uruguai. Os dados são do suplemento especial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/2005), divulgado ontem pelo IBGE, e evidenciam a enorme exclusão digital em que ainda vive a população brasileira.

O Brasil tem 32,1 milhões de cidadãos com idade acima de dez anos que acessam a internet. O número parece grande, mas representa apenas 21% da população, o que põe o Brasil no 62º lugar no ranking de nível de acesso no mundo, e em 4º lugar na América Latina, atrás de países como Costa Rica, Guiana Francesa e Uruguai. Os dados são do suplemento especial da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad/2005), divulgado ontem pelo IBGE, e evidenciam a enorme exclusão digital em que ainda vive a população brasileira. No perfil encontrado pelo instituto, a maioria é estudante, a idade é baixa (sobretudo entre 15 e 17 anos), a renda alta (mil reais em média per capita por residência) e o uso é majoritariamente para educação e aprendizado, citado por 71,7% dos entrevistados. Na opinião do economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV), esses dois indicadores, juventude e estudo, são o sinal de que o investimento em inclusão digital é fator fundamental de atração do jovem à escola, numa faixa etária mais vulnerável à violência e ao desemprego:


O grande medo de que a internet fosse veículo apenas de lazer para os jovens não se confirmou com os números da pesquisa. A internet é o meio que interessa a essa população. No momento que se fala de PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) educacional é importante descontingenciar os recursos do Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações), que se tornaram uma verdadeira frustração.


E a renda, pela pesquisa, é a principal barreira para o acesso à rede. Enquanto o rendimento médio familiar per capita do brasileiro é de R$471, o ganho dos que acessam a internet sobe para mil reais. Na parcela dos que não acessam, o rendimento cai para R$333.


A primeira barreira é ter o computador, a segunda é pagar o acesso – disse Plínio Aguiar Júnior, presidente da Agência Nacional de Telecomunicações


A escolaridade é outro fator importante. A parcela de incluídos digitais entre os que têm mais de 15 anos de estudo (pelo menos o ensino superior completo) chega a 76,2%. Por isso, cientistas e trabalhadores em serviços administrativos são os que mais acessam.


Casa é o principal local de acesso à rede


A empresária Maria Luiza Paiva Chaves é fã e usuária de primeira hora da internet. Mal o acesso à rede mundial de computadores começou a ganhar força no país, ela correu para garantir seu acesso. Hoje, Maria Luiza usa a internet em casa e no trabalho, onde chega a ficar online por até dez horas diárias.


– Faço pesquisas, serviços bancários, troco e-mails, converso com minha filha que mora fora do país. Ou seja, a internet faz parte da minha rotina – contou.


A comunicação ocupa o segundo lugar no ranking de motivos de acesso à rede citados pelos entrevistados. Já as transações bancárias ficam em penúltimo lugar, seguidas das compras, mostrando que ainda há desconfiança em usar dinheiro na internet.




– Esse tipo de uso é maior nas faixas etárias mais velhas e entre os homens, que também acessam mais para lazer e compras. As mulheres usam mais para educação – disse Maria Lucia Vieira, gerente da Pnad.


Por local de acesso, a residência é mais citada por 50% dos entrevistados, seguida de perto pelo trabalho (39,7%). A escola ainda é pouco utilizada como forma de entrar na internet. Apenas 25,7% citaram esse local de acesso.


– É importante usar a escola como ponte para essa inclusão. A escola socializa e educa para o uso mais voltado ao aprendizado, o que deve se refletir no desempenho dos alunos. Na pesquisa da Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), os jovens que têm acesso ao computador apresentam resultados 15% melhores – disse Neri, da FGV.


Os centros públicos gratuitos são os menos citados na pesquisa. Apenas 10% dos incluídos usam esse local de acesso. O diretor-executivo da ONG Comitê para a Democratização da Informática (CDI), Rodrigo Baggio, ressaltou o fato de a pesquisa contemplar os dados de acesso à internet pública gratuita, ou não, e nas escolas. Segundo ele, esta pesquisa já é resultado do esforço de políticas públicas e também da sociedade civil para incentivar a inclusão digital. Mas ele lamenta que os números ainda mostrem muita desigualdade no acesso à internet no país:


– Os dados constatam que ainda existe um apartheid digital. A taxa de crescimento do acesso à internet é muito maior nas classes mais altas e bem menos veloz entre a população de baixa renda.


Folha de São Paulo


Educação é principal interesse na internet


A educação é o principal fator de interesse do internauta brasileiro, revela a pesquisa do IBGE “Acesso à internet e posse de telefone”, feita a partir de dados de 2005 da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios).


Segundo o estudo, 71,7% dos usuários disseram acessar a rede em busca de educação e aprendizado. O segundo assunto de maior interesse é a comunicação com outras pessoas, citada por 68,6%. O item inclui conversas em salas de bate-papo, ferramentas como Orkut, programas de mensagens instantânea, blogs e fotologs.


O lazer é o terceiro colocado, citado por 54,3%. A leitura de jornais e revistas aparece em seguida, com 46,9%. O estudo, o primeiro do tipo do IBGE, mostra que o internauta brasileiro é jovem e tem renda e grau de instrução elevados.


Em 2005, o país tinha 32,1 milhões de usuários de internet, o equivalente a 21% da população. A idade média das pessoas que acessam a rede era de 28,1 anos, e o número médio de anos de estudo, 10,7. A renda mensal per capita era R$ 1.000.


Segundo o presidente da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), Plínio de Aguiar, a primeira barreira para o acesso à internet é a econômica. O governo estuda usar o Fust (Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações) para cobrir as despesas de acesso à rede em 200 mil escolas. A Anatel pretende aprovar no primeiro semestre um plano de acesso à rede discada em que as operadoras oferecerão um pacote de dez horas de navegação por R$ 7,50.


O uso da internet é mais freqüente entre os jovens. No grupo de 15 a 17 anos, 33,9% das pessoas acessaram a rede. A condição de estudante é fator de peso no acesso. Entre os estudantes, 35,9% usam a internet. Ente os que não são estudantes, o número cai para 16%.

É o caso da estudante Joana Rottgers Silva, 14, que usa a rede para fazer pesquisas escolares, conversar com amigos no Orkut e verificar os recados em seu fotolog. “Na maioria das vezes uso a rede como passatempo. Coloco fotos minhas, troco mensagens com amigos e baixo músicas. Consulto até mesmo o horário do ônibus pela internet”, disse.

As mulheres acessam mais a rede do que os homens até os 25 anos. A partir daí, o percentual de homens é maior. As mulheres acessam mais a partir de locais de ensino, e os homens preferem o local de trabalho e os centros de acesso pago. As mulheres navegam em busca de educação e aprendizado. Os homens, para fazer compras, buscar atividades de lazer e realizar transações bancárias.


Resistência


O perfil dos que não acessam a rede é composto por pessoas de 37,5 anos em média e 5,6 anos de estudo. O rendimento médio é de R$ 333.


A falta de acesso ao computador é a principal justificativa para os que não usam a rede, citada por 37,2%. Para 20,9% dos entrevistados, no entanto, a internet não é necessária ou não desperta a atenção.


A aposentada carioca Silvia Medeiros de Oliveira, 62, diz que sofre críticas da família e dos amigos porque não quer comprar um computador.


“Posso comprar, mas não quero, não tenho vontade.” Ela se diz pressionada: “Outro dia queria fazer uma reserva em um hotel e me disseram “só por e-mail”.




 

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