O governo do presidente Lula trombeteia que seus programas assistenciais estão acabando com a miséria no Brasil.Os institutos de pesquisa mostram que as classes socioeconômicas D e E – as mais pobres – aumentaram seu poder de consumo, graças aos mergulhos de peito aberto nas ondas do financiamento popular. Já se fala até em redução das desigualdades sociais neste País que exorcizou o fantasma da inflação. Mas isso tudo é, no mínimo, discutível. O que vem acontecendo no Brasil nos últimos 20 anos – e torna-se nítido agora – é o deslocamento das faixas socioeconômicas para baixo.
O governo do presidente Lula trombeteia que seus programas assistenciais estão acabando com a miséria no Brasil.Os institutos de pesquisa mostram que as classes socioeconômicas D e E – as mais pobres – aumentaram seu poder de consumo, graças aos mergulhos de peito aberto nas ondas do financiamento popular. Já se fala até em redução das desigualdades sociais neste País que exorcizou o fantasma da inflação. Mas isso tudo é, no mínimo, discutível. O que vem acontecendo no Brasil nos últimos 20 anos – e torna-se nítido agora – é o deslocamento das faixas socioeconômicas para baixo. O crescimento pífio do Produto Interno Bruto (PIB), em torno de míseros 2 a 3% ao ano nas duas últimas décadas, já fez seu estrago: a classe média brasileira está mais empobrecida. Mas há também posições contrárias, vindas de estudiosos e analistas que garantem, fundamentados igualmente em estatísticas, que essa mesma classe média vive hoje em condições até melhores do que antes. Para colocar esse tema em discussão com informações atualizadas e aprofundadas, a Gazeta Mercantil inicia nesta edição a série de reportagens exclusivas “Classe Média – A travessia do purgatório”, que prosseguirá nas próximas semanas.. Após analisar as recentes informações de que os brasileiros de baixa renda estão consumindo mais, o professor Waldir Quadros, do Instituto de Economia da Unicamp, não mudou de opinião. Na avaliação dele, a classe média ficou de fato mais pobre nos últimos 20 anos. E o professor tem números para comprovar isso.
Quadros adverte que o maior consumo detectado entre as classes mais pobres só acontece porque as lojas aumentaram a oferta de crédito para potencializar as vendas, os produtos importados estão mais baratos devido à valorização cambial do real e a oferta de cartões de crédito precisou chegar, por estratégia das instituições financeiras, às camadas mais carentes da população. Os pobres estão se endividando mais e, quando compram à vista, consomem produtos muito baratos, qualquer coisa por R$ 1,99.
A melhor descoberta do professor, no entanto, não foi esta. Ao estudar os dados do período de 1981 a 2005 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), elaborada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ele constatou que a renda cresceu 91%, mas a população aumentou só 53%. Ou seja, a renda per capita só cresceu porque houve redução no nascimento de brasileiros.
Quadros avançou nos cálculos. Num primeiro passo, excluiu de suas análises os brasileiros ricos, pelo fato de representarem um percentual muito pequeno em relação à população. Em seguida, adotou um parâmetro parecido com o utilizado pelos publicitários e definiu como classe média alta, ou classe A, o grupo de brasileiros que recebem acima de R$ 2,5 mil por mês.
Como classe média, ou B, ficaram aqueles que recebem de R$ 1,250 mil a R$ 2,5 mil. Na classe média baixa, ou C, foram incluídos os que ganham de R$ 500 a R$ 1,250 mil. No grupo que chama de massa trabalhadora, ou classe D, estão os brasileiros que vivem mensalmente com R$ 250 a R$ 500. Finalmente, aparecem os miseráveis, ou classe E, onde estão aqueles que ainda conseguem sobreviver com uma renda inferior a R$ 250 por mês. Quadros debruçou sobre as estatísticas do período de 1981 a 2004, para verificar como evoluiu cada classe socioeconômica. Ele preferiu excluir da análise o ano de 2005 por ter dúvidas quanto à composição original dos números da PNAD. Sobre o período de 1981 a 2004, no entanto, ele não teve qualquer dúvida: verificou que a classe A brasileira foi reduzida de 5,2% para 4,1% da população, a B caiu de 8,5% para 7,3% e a C encolheu de 25,5% para 22,2%, enquanto a D cresceu de 24,6% para 28,4% e a E subiu de 36,2% para 38%. “O que houve foi uma redução espúria da desigualdade socioeconômica no Brasil, já que as faixas de rendimento foram empurradas para baixo, porque não houve progresso”, concluiu.