Jornal do Commercio Editoria: Economia Página: A-2
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que, durante as visitas às agências de classificação de risco, em Nova York, está mostrando a “predisposição do governo com a continuação da implementação das reformas”, uma demanda que tem sido central pelas agências para a redução da carga da dívida do País. Ontem, o ministro visitou a Moody’s Investors Service; hoje, vai à Standard & Poor’s.
Jornal do Commercio Editoria: Economia Página: A-2
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que, durante as visitas às agências de classificação de risco, em Nova York, está mostrando a “predisposição do governo com a continuação da implementação das reformas”, uma demanda que tem sido central pelas agências para a redução da carga da dívida do País. Ontem, o ministro visitou a Moody’s Investors Service; hoje, vai à Standard & Poor’s. Aos analistas da Moody’s, ele disse que sugeriu a formação de um grupo de estudo, por meio de seminários, para a ponderação de outras variáveis da economia do País para o cálculo do rating (nota) que refletiriam a diversidade da estrutura produtiva do Brasil. Membros da equipe do Tesouro elaborariam estes seminários, afirmou Mantega.
O ministro classificou a visita como “boa”, mas acredita que o Brasil “já está tendo upgrade (melhora) da classificação por analistas e participantes dos mercados”, uma vez que a trajetória do risco País tem sido declinante. Para os participantes do mercado, segundo ele, o Brasil já tem o upgrade, que não precisa estar na avaliação das agências, acredita.
Na avaliação de Mantega, “falta um pouco de criatividade para olhar outros fatores”. “As agências estão presas a padrões mais antigos de avaliação do País”. “Eu perguntei a eles por que o Brasil é classificado como outros países mais frágeis”, informou o ministro.
Ele observou que foram apresentados pela Moody’s dados relativos às dívidas externa e pública brasileiras. “Em externa, está muito bom, mas, no lado fiscal, eles ponderam que caminhamos menos”, afirmou em entrevista. Na relação dívida bruta/PIB, Mantega informou que foi apresentado pela agência um número que bate em 65%. Para a relação dívida líquida/PIB, o numero é de 45%. “Isto é um problema, ficam muito presos à questão fiscal”, reclamou.
O ministro reconheceu que há um componente político nesta visita às agências, pois teve por objetivo mostrar “que o governo tem disposição e o desejo de dar continuidade às reformas e de manter a responsabilidade fiscal”. Durante a palestra para investidores, no evento organizado pela Brazilian American Chamber of Commerce e o Council of Americas, o ministro reconheceu desafios à economia brasileira e enfatizou a necessidade de reformas para que o País cresça mais. Na platéia, estava a diretora para ratings soberanos da agência de classificação Standard & Poors, Lisa Schineller, que participará da reunião com o ministro hoje.
Para os investidores, ele manteve o tom que está sendo apresentado às agencias de rating: “estamos procurando reconhecimento de que o Brasil é economia sólida e merece rating maior do que é atribuído”. “Estamos a dois degraus de distância do investment grade (grau de investimento). Mas acredito que estaríamos a menos do que isto”, disse aos investidores. Mantega citou a evolução das reservas internacionais do BC, acrescentando que “a pouca vulnerabilidade é inédita na história do País”. Para ele, a tendência do risco Brasil continua sendo de maior estreitamento em relação aos títulos do Tesouro dos EUA (Treasuries).
O ministro ressaltou pontos contidos no Plano Anual de financiamento (PAF), indicando que o governo está reduzindo o número de papeis pós-fixados, “que é uma dívida de má qualidade feita em momentos de incerteza”, afirmou em evento da Câmara Brasil-EUA. “Agora caminhamos para prefixados e híbridos”, completou.
Mantega mencionou o que considera como “revolução de crédito” no País. Com demanda vigorosa para pessoa física, para agricultura, indústria, construção civil e habitação. Ainda, acrescentou que “o mercado de capitais está explodindo. No bom sentido, está crescendo de forma impressionante.” Mantega compara que o mercado de capitais girava US$ 24,5 bilhões, em 2002, ante US$ 116 milhões até fevereiro de 2007. “O investimento caminha na frente do consumo. A oferta, na frente da demanda. Isto nos deixa tranqüilos em relação a problemas com inflação”, acrescentou.
O ministro reconheceu que o Brasil não conseguirá sustentar o crescimento sem ampliação da infra-estrutura e da logística para transporte. Ele afirmou que, “em breve, será lançada a licitação de rodovias federais”. Ele afirmou que infra-estrutura é prioridade. Mantega também destacou a importância da redução de custos financeiros para as empresas. “Trabalhamos para a redução do spread (bancário), afirmou. “Desafio é acelerar crescimento mantendo fundamentos sob controle”, completou.
Segundo o ministro, é fundamental a redução do custo tributário para levar “à formalização da economia brasileira e implementar um aumento salutar da arrecadação, ou seja, sem aumentar impostos”. “O cenário é favorável para reformas. Temos situação favorável, o que não significa que seja confortável”, reconheceu.
Fazenda descarta artificialismos no câmbio
A valorização da taxa de câmbio deverá mostrar abrandamento à frente, de acordo com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Contínuo crescimento econômico com aumento das importações e a compra de reservas devem colaborar para que seja reduzida a pressão sobre a moeda brasileira, disse o ministro. Contudo, ele reitera que “o governo não está disposto a usar artificialismos”, afirmou, em palestra para investidores em Nova York. “Mas torço para que se valorize o menos possível”, completou.
“Espero que o câmbio valorizado se atenue, mas não há sangria desatada. (A apreciação da moeda) não é tão dramática”, disse, em evento da Câmara Brasil-EUA. No entanto, o ministro admite que o nível do real “é um problema” e que afeta principalmente os exportadores. Ele se recusou a estimar quanto o câmbio deve se abrandar. “Como ministro não faço projeções.”
Mantega descarta medidas de controle artificial do câmbio. Artificialismos, disse, têm resultado de curta duração e depois desmoronam. Embora pondere que a compra de reservas não tem objetivo direto de abrandar o real, ele reconhece que a construção das reservas “em grande velocidade” reduz a pressão sobre a moeda. “O próprio crescimento econômico com o crescimento das importações” atuarão sobre o câmbio, estima. O ministro previu que as importações devem crescer 23% mais em 2007 do que em 2006.
Para ele, o câmbio está forte com uma economia forte. “Não dá para ter câmbio fraco com economia forte”. Mantega reiterou que a trajetória do País em relação ao grau de investimento também adiciona pressão sobre o real.