Jornal do Commercio Editoria: Economia Página: A-3
A visita do Ministro da Fazenda, Guido Mantega, a agências de classificação de risco em Nova York tem como objetivo trazer o investment grade ao Brasil em menos de um ano. Será a primeira vez que o representante da pasta da Fazenda se reunirá com as classificadoras de risco americanas. O encontro de Mantega será com os diretores de duas das principais agências: Standard & Poor”s S&P e Moody”s.
Jornal do Commercio Editoria: Economia Página: A-3
A visita do Ministro da Fazenda, Guido Mantega, a agências de classificação de risco em Nova York tem como objetivo trazer o investment grade ao Brasil em menos de um ano. Será a primeira vez que o representante da pasta da Fazenda se reunirá com as classificadoras de risco americanas. O encontro de Mantega será com os diretores de duas das principais agências: Standard & Poor”s S&P e Moody”s. Durante as negociações o ministro deve assegurar a aplicação do ajuste fiscal e a manutenção do saldo primário suficiente para alcançar um déficit nominal muito próximo de zero até 2010. Pela Lei de Diretrizes Orçamentárias, enviada semana passada ao Congresso, o déficit cairá para 0,82% do Produto Interno Bruto.
Técnicos do governo estão em contato permanente com as agências, mas a ida de um ministro às sedes dessas instituições é uma oportunidade para o País dar um sinal político de seu compromisso com a responsabilidade macroeconômica, afirmou uma fo nte do governo acostumada a lidar com as agências. Como os ministros são tradicionalmente recebidos pela diretoria das agências, a reunião também cria condições para que o diretor responsável pelo Brasil exponha a todo o grupo avaliações sobre o país, o que pode ser favorável.
“As agências classificadoras de risco sempre foram palco de visitas de diretores do Banco Central e até de alguns presidentes do BC. A presença inédita de um ministro da Fazenda reitera a vontade política do Governo em manter o Brasil no estado de solvência interna. A presença de Mantega em Nova York pode adiantar a chegada do grau de investimento. Pode até vir em menos de 12 meses”, arrisca Carlos Thadeu de Freitas, chefe da divisão de economia da Confederação Nacional do Comércio e ex-executivo do Banco Central.
Na opinião de Freitas, o Brasil já atingiu, na prática, o grau de investimentos. A desvalorização do dólar e a queda da taxa de juros indicam a boa posição do País diante de in vestidores internacionais. A vantagem do grau máximo de clas! sificaçã o de risco é permitir que fundos de pensão internacionais possam fazer investimentos diretos no Brasil. Sem o investment grade, alguns fundos estão impedidos, por regras próprias, de entrar no País.
O Brasil está a dois degraus do almejado grau de investimento, classificação que dá um selo de garantia à dívida junto a investidores e é condição ‘sine qua non’ para que diversos fundos de estrangeiros apliquem em títulos nacionais. “O ponto da questão é este: atrair mais investimentos em infra-estrutura e títulos públicos”, completou Thadeu de Freitas.
A presidente da Standard & Poor’s no Brasil, Regina Nunes, afirmou em entrevista à Reuters, no início domês, ser “impossível” a elevação da dívida em moeda estrangeira do Brasil para grau de investimento ainda neste ano.
A expectativa do Governo é tanta que poucos dias atrás o secretário do Tesouro, Tarcísio Godoy, anunciou que já tinha uma garrafa de champagne na geladeira para comemorar a conquista. “As agências são muito mais otimistas em relação a essa possibilidade quando conversam conosco em reservado”, afirmou uma fonte do governo. A reavaliação da metodologia do Produto Interno Bruto (PIB) – que mostrou o crescimento brasileiro maior – fez aumentar a expectativa de reclassificação.
Em janeiro, o endividamento recuou para 44,6 % do PIB, ante cálculo anterior de 49,7%. O governo aponta para a redução da vulnerabilidade externa com o acúmulo de reservas e a redução da dívida em dólar.
A S&P e a Fitch – outra agência de rating – já afirmaram, no entanto, que o endividamento brasileiro segue elevado se comparado a países com a mesma avaliação. Ambas classificam o Brasil como “BB”, com perspectiva positiva. O país precisa ser elevado a “BB+” antes de chegar ao “BBB-“, nota mais baixa dentro do grau de investimento.
Reservas podem atingir US$ 160 bi e passar a dívida
O Brasil pode ultrapassar os US$ 160 bilhões em reservas, valor atual da dívida externa pública e privada, afirmou o ministro da Fazenda Guido Mantega ontem. “Não vejo nenhum inconveniente em ultrapassar US$ 160 bilhões; não há limite para acumulação de reservas, ela é feita de acordo com nossa necessidade de enxugar o mercado e pagar as nossas dívidas”, disse Mantega, que estava em Washington participando da Reunião da Primavera do Fundo Monetário Internacional.
Segundo Mantega, a maioria das economia que sofrem hoje com a valorização de sua moeda têm aumentado suas reservas. “Uma das medidas (para conter a valorização do real) é aumentar as reservas, enxugando os dólares excedentes que há na economia”, disse o ministro da Fazenda. “Outra medida é o crescimento, pois à medida que a economia cresce, importa-se mais; isso já acontece no Brasil, o crescimento das importações é maior que a alta das exportações.”
Mantega aponta para o benef ício do aumento das reservas, atualmente em cerca de US$ 110 bilhões. “Reservas tornam o país seguro; o país fica protegido de um ataque especulativo contra a moeda local”, disse o ministro da Fazenda. “Quando se tem US$ 100 bilhões em reservas no bolso, os especuladores pensam duas vezes antes de fazer um ataque especulativo.”
Mantega admite que carregar altas reservas tem um custo, porque é necessário enxugar os reais da economia com emissão de dívida pública, “mas vale a pena”. O ministro da Fazenda comemorou as observações do FMI sobre a situação macroeconômica do Brasil. “O Fundo reconhece que o Brasil avançou muito nas questões econômicas e sociais; reconhece que o País está crescendo de forma sólida, que as contas públicas estão bem”, disse Mantega. “Sempre fazem recomendações, como a de reduzir os gastos fiscais, mas o resultado é muito favorável para o Brasil.”
Mantega foi para Nova York, onde além de reuniões com o conselho das agências de classificaç ão de risco Moody”s e Standard & Poor”s, participa de ev! entos no Council of the Americas e de uma reunião com investidores no hotel Waldorf Astoria.