Meirelles reafirma: não há meta para o câmbio

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Freqüentemente alvejado pelas críticas à política monetária e cambial, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, reafirmou ontem que não trabalha com uma meta para a taxa de câmbio. “O BC trabalha com metas para a inflação e não tem meta para o câmbio”, disse, ao deixar uma reunião de aproximadamente duas horas com o ministro da Fazenda, Guido Mantega.


Nos últimos dois dias, a cotação do dólar frente ao real vem ficando abaixo da marca dos R$ 2,10. Para analistas de mercado, a taxa de câmbio poderá cair ainda mais e voltar a um nível inferior aos R$ 2,00.

Freqüentemente alvejado pelas críticas à política monetária e cambial, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, reafirmou ontem que não trabalha com uma meta para a taxa de câmbio. “O BC trabalha com metas para a inflação e não tem meta para o câmbio”, disse, ao deixar uma reunião de aproximadamente duas horas com o ministro da Fazenda, Guido Mantega.


Nos últimos dois dias, a cotação do dólar frente ao real vem ficando abaixo da marca dos R$ 2,10. Para analistas de mercado, a taxa de câmbio poderá cair ainda mais e voltar a um nível inferior aos R$ 2,00. “Apesar (das intervenções) do BC, não há barreira e o dólar pode romper os R$ 2,00”, considerou o economista do Unibanco, Darwin Dib, em teleconferência da Agência Estado.


Nos últimos dias, o BC tem aumentado o volume de compras de moeda estrangeira para recompor as reservas internacionais. Tanto que, em apenas quatro dias, as reservas tiveram um crescimento de US$ 1,229 bilhão e saltaram de US$ 91,086 bilhões para R$ 92,315 bilhões.


Para Meirelles, nada mudou nas atuações do BC no mercado de câmbio. “Continuamos conduzindo a mesma política de recomposição das reservas iniciada em 2004”, afirmou.


Por esta política, as compras de dólares efetuadas pelo BC não devem ter como objetivo alterar a trajetória das cotações e nem adicionar ao volatilidade ao mercado de câmbio. “Sempre que houver interessado em vender moeda estrangeira para nós, entramos no mercado comprando dólares. Do contrário, ficamos ausentes”, disse uma fonte do BC.


Negando rumores de que o presidente Lula estaria pressionando o BC para elevar a cotação do dólar, Meirelles afirmou que não tem conversado com o presidente nos últimos dias. “Não sei o que ele está pensando”, afirmou em rápida entrevista concedida após o encontro com Mantega.


A preocupação entre integrantes do governo é que um eventual valorização excessiva do real venha a prejudicar as exportações. Sobre o encontro com o ministro, o presidente do BC afirmou tratar-se apenas de uma reunião de “rotina”. “É algo que fazemos toda semana. Às vezes com almoço, outras não”, disse.


Onten, o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), defendeu, em reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, que o governo tome medidas para conter a queda do dólar. Berzoini argumentou que a desvalorização da moeda americana vem prejudicando diversos setores da economia brasileira.


“Precisamos ter um equilíbrio, de modo que a taxa de câmbio não prejudique setores importantes da economia que competem nos mercados interno ou externo com competidores ágeis que tem taxas mais favoráveis. Setores como calçados, móveis e eletroeletrônicos já começam a sofrer impacto significativo da questão cambial. Não é bom para a economia brasileira”, afirmou Berzoini.


Berzoini disse que não iria expor a posição do PT sobre o dólar porque isso poderia gerar expectativas no mercado que podem não se confirmar. Ele não adiantou o que disse Mantega sobre o tema por considerar que seria “uma indelicadeza” revelar as posições do ministro.


O presidente do PT disse apenas que Mantega se mostrou “”bastante preocupado” em garantir sustentabilidade que permita o crescimento da economia. “O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) terá um papel importante no crescimento, mas temos que nos preocupar com os indicadores macroeconômicos”, disse.


Secretário diz que câmbio reflete a melhora do risco país


A contínua queda do dólar reflete a melhora do risco Brasil e, durante esse processo, é “importante” que o Banco Central mantenha as compras de moeda norte-americana do mercado, afirmou à Reuters o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Júlio Sérgio Gomes de Almeida.


“(O país) vai ter que aprender a lidar (com o dólar mais baixo) e eventualmente a gente prosseguir ou ampliar – aí vai depender muito das avaliações – as intervenções no mercado de câmbio”, disse ontem o secretário, ressaltando que o assunto “técnico” é de responsabilidade do Banco Central.


A expectativa de Gomes de Almeida é de que a valorização do real se arrefeça à medida que o risco país se aproximar da média dos países emergentes e o juro cair mais.


O secretário, que antes de participar do governo estava à frente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), acrescentou estar preocupado com o efeito da valorização do real sobre a indústria, em particular sobre setores intensivos em mão-de-obra, que sofrem a concorrência direta da China.


Gomes de Almeida destacou especificamente os setores de vestuário, calçados, metalurgia, produtos de escritório e brinquedos. “Eu temo muito pela nossa indústria, por segmentos como esses”, disse. “Nós temos que atravessar de alguma forma este momento que, não vamos tampar o sol com a peneira, é um momento de dificuldade.”


Apesar da preocupação com a mudança de patamar do câmbio, Gomes de Almeida afirmou que o movimento não afetou a projeção de crescimento do país feita pelo Ministério da Fazenda, de 4,5% este ano.


Segundo o secretário, a avaliação é de que os efeitos da concorrência asiática atingiram o pico no ano passado – quando as empresas procuravam conquistar mercado – e que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) contribuirá com 0,5 ponto percentual para o crescimento.


Nesta semana, o dólar caiu abaixo de R$ 2,10, o menor patamar desde maio do ano passado, e o risco Brasil, medido pelo JP Morgan, chegou à mínima histórica de 177 pontos-básicos sobre os Treasuries. O BC vem comprando dólares do mercado quase diariamente desde meados de 2006.


Analistas: Selic é uma das principais causas da queda


O dólar voltou a cair ontem, para R$ 2,086, apesar de novas compras da moeda americana pelo Banco Central (BC), estimadas em US$ 480 milhões. Desde o início do ano, o mercado calcula que o BC já comprou US$ 6,6 bilhões. Para uma corrente de analistas, a redução do ritmo de queda da Selic, a taxa básica de juros, de 0,50 ponto percentual para 0,25, é uma das principais causas da nova onda de desvalorização do dólar. Assim, a única forma de brecar a valorização do real é reacelerar a queda da Selic. Em sua reunião de janeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC cortou a Selic de 13,25% para 13% ao ano.


“Hoje em dia, não dá para ter controles de capitais, então o que resta é baixar a Selic mais rapidamente”, entende Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC e chefe do Departamento Econômico da Confederação Nacional do Comércio (CNC). A opinião está em linha com o que disse à reportagem, na segunda-feira, o diretor-executivo do Banco Itaú, Sérgio Werlang, ex-diretor do BC, para quem “seria muito mais interessante cortar o juro mais rapidamente do que continuar acumulando reservas”.


Thadeu e Werlang também coincidem em considerar que a redução do ritmo de cortes para 0,25 ponto deu muita previsibilidade ao mercado de que o diferencial entre as taxas de juros internas e externas vai ser fechado lentamente. Isso, por sua vez, dá segurança aos investidores internacionais para apostar nos juros brasileiros. O economista da CNC é particularmente crítico do emprego da palavra “parcimônia” na última ata do Copom, que, segundo ele, “prefixou o ritmo da queda para o mercado”.


Mesmo economistas que não criticam o BC, como Ilan Goldfajn, principal executivo da Ciano Investimentos e ex-diretor do BC, associam a pressão de desvalorização do dólar dos últimos dias à desaceleração da queda da Selic. “A redução do ritmo de queda animou o pessoal no câmbio, que está testando o BC”, acredita.


Aprovação. Goldfajn acha que está correta a posição do BC de atuar mais pesadamente no câmbio, no momento em que desacelerou o ritmo dos cortes para ter sinais mais nítidos do efeito da redução da Selic na inflação (isso não quer dizer que ele necessariamente concorde com a redução do ritmo de queda da Selic). “Eu acho certo suavizar a queda do dólar nessa situação”, diz o economista.


Octavio de Barros, diretor de Pesquisa Macroeconômica do Bradesco, considera que o problema cambial pode estar sendo superestimado. “Ninguém tem de perder o sono por causa disso”. Segundo as estimativas do Bradesco, a taxa de câmbio de equilíbrio de longo prazo hoje estaria em R$ 2,11, pouco acima do nível atual.


“As coisas estão indo muito bem, o BC deve continuar comprando e fazendo uma redução gradual e segura dos juros, e o câmbio vai encontrar seu equilíbrio depois deste momento um pouco mais especulativo”, diz Barros.


Para a AEB, moeda abaixo de R$ 2,10 é uma tragédia


A forte queda na cotação do dólar neste início de semana deixou o setor industrial extremamente apreensivo. Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Benedicto Fonseca Moreira, o dólar abaixo de R$ 2,10 é uma “tragédia”. Segundo afirmou, o câmbio nesse nível tira o ganho que os exportadores vinham obtendo com a alta nos preços de alguns produtos, além de excluir do mercado externo empresas que já trabalham com margens no limite. “Temos um real se valorizando e um custo interno se agravando”, diz Moreira. “É um choque de trens que temos pela frente.”


Na sua avaliação do presidente da AEB, a situação do câmbio hoje no país é uma temeridade, cujas conseqüências serão desastrosas para a economia. Um exemplo claro disso é a taxa de crescimento das importações, que já supera a das exportações. “Em qualquer país do mundo isso faria acender o sinal amarelo no governo”, afirmou. “Aqui, parece que eles (o governo) vão esperar a inversão das contas e a volta da vulnerabilidade externa para corrigir as distorções.”


Uma medida que, segundo Moreira, contribuiria para diminuir a enxurrada de dólares no país seria a instituição de uma quarentena para investimentos estrangeiros especulativos. “Não pode deixar o camarada que tem dinheiro sobrando lá fora vir aqui dar uma bicada na bolsa, uma bicada no juro e no dia seguinte ir embora.”


 

 

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