Novo PIB eleva pressão sobre BC

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A nova metodologia de cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) revelou que o crescimento acumulado do consumo privado foi de 22% entre 1995 e 2005, bem acima da taxa de 16% da série antiga. Já a expansão dos investimentos encolheu de 11% para 9%. A tendência de crescimento mais forte poderá trazer um dilema para o Banco Central (BC) na definição dos juros a partir do ano que vem, ainda que não altere as discussões neste ano.


A análise é do economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Fábio Giambiagi.

A nova metodologia de cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) revelou que o crescimento acumulado do consumo privado foi de 22% entre 1995 e 2005, bem acima da taxa de 16% da série antiga. Já a expansão dos investimentos encolheu de 11% para 9%. A tendência de crescimento mais forte poderá trazer um dilema para o Banco Central (BC) na definição dos juros a partir do ano que vem, ainda que não altere as discussões neste ano.


A análise é do economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) Fábio Giambiagi. Ele explica que, no curto prazo, o crescimento mais vigoroso do consumo ajudou a elevar as taxas dos PIB na nova série. O crescimento médio anual do consumo privado no período foi de 1,5% para 2%. O do governo, de 1,5% para 1,9%.


No longo prazo, se a tendência de expansão do consumo for muito forte, “em algum momento pode ser necessário frear o ritmo para ampliar o investimento”, disse o economista do Ipea, órgão ligado ao Ministério do Planejamento.


Giambiagi ressalta que isso não altera as discussões para a política monetária neste ano. “Isso pode ocorrer em algum momento de12 a 24 meses para a frente. É um dilema que pode se estabelecer a partir de meados do ano que vem.”


Entre 1995 e 2005, o crescimento acumulado do consumo do governo também avançou, de 16% na série anterior para 21% na atual. Se o consumo de um País cresce mais rapidamente do que os investimentos e o aumento da capacidade de produção, em algum momento a ociosidade para atender a nova demanda pode acabar. Quando isso ocorre, começa a haver desequilíbrio entre o consumo e a capacidade de ofertar produtos e serviços, o que aumenta o risco de crescimento econômico com inflação.


“O que os números dizem é que esse problema continua”, afirma Giambiagi, citando que é preciso que o crescimento do País seja sustentável. Ele exemplifica com o que ocorreu em 2004. Naquele ano, houve forte crescimento (5,7%, conforme a nova série do PIB) junto com pressão inflacionária, que levou ao aumento dos juros. A taxa Selic, que estava em 16% setembro, cresceu progressivamente até chegar a 19,7% em meados de 2005.


REPETIÇÃO


O economista cita o surto de crescimento em 2004, quando o ideal era que tivesse ocorrido o início de um novo ciclo. O resultado disso é que em 2005 a economia cresceu quase metade da taxa do ano anterior (2,9%). “Tomara que 2008 não repita 2004. É melhor ter uma expansão moderada, que possa ter sustentação no futuro.”


O economista da MB Associados Sérgio Valle argumenta que “um crescimento saudável é baseado em investimentos, enquanto a expansão no consumo não é sustentável”. Ele explica que ainda há capacidade ociosa na economia, o câmbio está apreciado e inflação não é problema para este ano. Pondera, contudo, que, caso o câmbio se desvalorize e o consumo prossiga avançando mais, o BC poderia, eventualmente, deixar de parar de reduzir os juros ano que vem. “Esse é um problema para 2008”, afirmou.


Ainda segundo Giambiagi, a carga tributária, os gastos públicos e as despesas da Previdência ficaram menores como proporção do PIB a partir da nova série do IBGE, mas a tendência de expansão desses indicadores continua a mesma nos anos do período. Isso significa que permanece o desafio de mudar a trajetória de crescimento de indicadores como os dos gastos públicos.


 

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