Vera Brandimarte
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não trouxe surpresas em relação ao que já vinha sendo divulgado largamente pela imprensa nas últimas semanas. Por isso mesmo, as atenções do mercado financeiro ontem já se concentravam nas especulações sobre qual será o comportamento do Comitê de Política Monetária, o Copom, que vai definir, até quarta-feira, a nova taxa de juros Selic. As opiniões se dividiam em relação a qual será a reação do BC em relação ao PAC. Mas deveria o novo programa influenciar a votação do Copom?
Vera Brandimarte
O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) não trouxe surpresas em relação ao que já vinha sendo divulgado largamente pela imprensa nas últimas semanas. Por isso mesmo, as atenções do mercado financeiro ontem já se concentravam nas especulações sobre qual será o comportamento do Comitê de Política Monetária, o Copom, que vai definir, até quarta-feira, a nova taxa de juros Selic. As opiniões se dividiam em relação a qual será a reação do BC em relação ao PAC. Mas deveria o novo programa influenciar a votação do Copom?
Os defensores de uma moderação do Banco Central, no ritmo de corte dos juros, vêm argumentando nos últimos dias que, diante de aspectos expansionistas do pacote, como a redução do superávit primário para financiar a maior participação do setor público nos projetos de infra-estrutura, espera-se do Copom uma atitude mais cautelosa, para prevenir um aumento da inflação futura.
Críticos dessa visão, dentro e fora do governo, observam, no entanto, que o primeiro objetivo do PAC é facilitar investimentos, para aumentar a oferta de bens e serviços. Sob esse ponto de vista, ao aumentar a capacidade de produção o PAC deveria ser considerado pelo BC como benéfico para o controle da inflação.
Para vê-lo como expansionista, seria preciso primeiro acreditar na capacidade do governo de pôr rapidamente em pé empreendimentos do Projeto Piloto de Investimentos (PPI), que implicará redução da meta de 4,25% de superávit primário, e depois imaginar que a capacidade arrecadadora da Receita Federal não compensará o aumento de gasto. Ainda que a Receita não tenha sucesso, é difícil imaginar que esses projetos saiam do papel tão cedo para produzir efeito fiscal ainda em 2007.
No curto e médio prazos, há vários fatores que podem ter impacto sobre a inflação, estes sim, com peso na próxima reunião do Copom. Nos últimos meses, assistiu-se a um aumento nas vendas do comércio, sem o correspondente aumento da produção industrial e, sobretudo, sem qualquer pressão de elevação de preços.
A explicação corrente é que o país, beneficiado em sua balança comercial pelos altos preços das commodities, estaria confortavelmente abastecendo seu mercado com importações, aproveitando-se da pressão deflacionária dos preços de produtos asiáticos. O pico do impacto deflacionário provocado pelo fenômeno Ásia pode, no entanto, já ter ficado para trás, já que a China já começa a enfrentar pressões internas de aumento de custo, observa uma fonte do governo.
Olhando no retrovisor, não há dúvidas de que o efeito China, ao ajudar a manter o câmbio apreciado e os preços equilibrados, contribuiu para que o BC cortasse a Selic em um ritmo até mais rápido do que o mercado esperava. Mas, agora, cabe ao Banco Central avaliar – entre outros fatores, como o efeito da contínua expansão do crédito – se a recente expansão da demanda foi atendida por importações ou se por um consumo mais intensivo de estoques. Se o último caso se verificou, pode haver pressão inflacionária pela frente, assim como podem ocorrer pressões nos preços de serviços, que estão fora da influência do câmbio.
Essas avaliações, feitas sobre dados empíricos precários, são, aparentemente, muito mais relevantes neste momento para a definição da taxa de juros do que eventuais efeitos de um ainda incerto sucesso do PAC.