A eleição de um presidente petista para comandar a Câmara dos Deputados poderá facilitar a relação do Congresso com o Executivo, mas não deverá reduzir o tamanho do PT na reforma ministerial programada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A opinião é de cientistas políticos que analisaram a eleição do deputado Arlindo Chinaglia para presidir a Casa nos próximos dois anos.
A eleição de um presidente petista para comandar a Câmara dos Deputados poderá facilitar a relação do Congresso com o Executivo, mas não deverá reduzir o tamanho do PT na reforma ministerial programada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A opinião é de cientistas políticos que analisaram a eleição do deputado Arlindo Chinaglia para presidir a Casa nos próximos dois anos.
Proximidade política
Apesar da proximidade política entre Lula e Chinaglia, o cientista político da Câmara Antônio Octávio Cintra acredita que o presidente da República deverá oferecer cargos no Executivo para consolidar a relação com os parlamentares. Em relação ao PT, o cientista político crê que o partido não reduzirá seu apetite por posições, apesar de ter obtido a presidência da Câmara com o suposto auxílio do Executivo. “Com a falta de unidade programática da base, há três maneiras de consolidar o apoio ao governo: a oferta de cargos, o controle da máquina e a aprovação de emendas parlamentares. E isso vale também para o PT”, listou.
O cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília, acredita que Lula será forçado e aumentar o número de ministérios para saciar os interesses do PT e do PMDB na composição do governo. “Quando o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) foi eleito presidente da Câmara, o PT estava afetado pelos escândalos de ‘mensalão’ e teve que engolir a seco uma participação menor no governo. Agora isso mudou, e o partido se sente mais forte com a eleição do ano passado e com a vitória para a Presidência da Câmara”.
Questionado se a eleição de Chinaglia não amenizaria a obrigação de Lula contemplar o PT, Fleischer comparou a situação atual com o período em que João Paulo Cunha exerceu a presidência da Câmara. “Naquela época, o apetite do PT não diminuiu, pelo contrário, houve o aparelhamento do Estado”. O cientista lembra ainda o fato de o PT ser formado por diversas tendências que não se sentiriam representadas por alguns nomes do partido nem compensadas pelo fato de Chinaglia ter sido eleito. “Democracia de coalizão é assim, o presidente da República tem que dividir o poder mesmo, tem que articular”, resumiu.
Relevância
O professor aposentado do Instituto de Ciência Política da UnB Otaciano Nogueira discorda de Fleischer e acredita que a eleição para presidente da Câmara será contabilizada na distribuição de cargos em uma eventual reforma ministerial. “A presidência da Câmara é um dos cargos mais relevantes do País, mais importante que qualquer ministro, é óbvio que isso vai entrar na conta da divisão de poder”, opina. Isso não significa, no entanto, que o PT aceitará ser excluído dos ministérios. “O PT vai continuar exercendo pressão para aumentar seu espaço porque esse jogo é legítimo do processo político. Às vezes, por ser aliado, se cobra mais”.
Agência Câmara, 26 de fevereiro de 2007.