Saída de dinheiro quase triplica

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As remessas de lucros e dividendos mais do que dobraram do segundo mandato do governo Fernando Henrique Cardoso para o primeiro mandado do governo Lula: passaram de US$ 17,553 bilhões para US$ 38,936 bilhões. Na mesma comparação de períodos, que exclui apenas o dado de dezembro de 2006, ainda não finalizado pelo Banco Central (BC), os investimentos diretos brasileiros no exterior mais que quadruplicaram de US$ 8,711 bilhões para US$ 37,518 bilhões.

As remessas de lucros e dividendos mais do que dobraram do segundo mandato do governo Fernando Henrique Cardoso para o primeiro mandado do governo Lula: passaram de US$ 17,553 bilhões para US$ 38,936 bilhões. Na mesma comparação de períodos, que exclui apenas o dado de dezembro de 2006, ainda não finalizado pelo Banco Central (BC), os investimentos diretos brasileiros no exterior mais que quadruplicaram de US$ 8,711 bilhões para US$ 37,518 bilhões. Juntando lucros e dividendos com investimetnos diretos brasileiros no exterior, foram US$ 76,454 bilhões no governo Lula e US$ 26,264 bilhões no governo FHC.


Economistas apontam o binômio juros alto/câmbio valorizado, associado ao baixo crescimento, como o indutor da saída de dinheiro do país, mesmo levando em conta o efeito da compra da mineradora canadense Inco pela Vale do Rio Doce, por US$ 17,8 bilhões. “As empresas têm tido uma sobra de caixa maior que a oportunidade de fazer negócios mais rentáveis no Brasil”, disse o economista Paulo Rabello de Castro, presidente da agência classificadora de risco SR Rating e da consultoria econômica RC Consultores


Para Rabello de Castro, a explicação vem do crescimento no exterior na faixa de 5% a 10%, enquanto no Brasil não passa de 3%. “E quando se acrescenta a questão cambial, a vaca vai para o brejo. O dólar a R$ 2,10 é quase um subsídio para a remessa de recursos ao exterior. Empresário não faz nada irracional”, afirmou o economista, hoje filiado ao Partido Verde (PV).


O economista César Benjamin, que coordenou o programa de governo da então candidata à Presidência da República, Heloísa Helena (PSOL), concorda. “Em uma economia de baixo crescimento, a demanda não se expande, e a propensão a investir é pequena”, avaliou. Para ele, com o “câmbio fora do lugar” torna-se muito lucrativo remeter os ganhos em reais para o exterior. “O Brasil é hoje um país que financia a industrialização de outros países”.


Na avaliação de Benjamin, algumas empresas brasileiras vão bem, mas a economia real vai mal. “Os juros e o câmbio são uma combinação macroeconômica que reflete uma anomalia mundial. Só quem participa da ciranda financeira está bem”. Tirante os casos de necessária verticalização empresarial, como Vale, Petrobras ou Gerdau, o economista disse que as companhias nacionais que seguem em direção ao exterior o fazem por falta de demanda local.


Taxa de câmbio e falta de competitividade local


O economista Luciano Coutinho, da LCA Consultores, avalia que o investimento para expansão orgânica de empresas brasileiras no exterior ainda supera a fuga de capital nacional em função da falta de competitividade local. “É natural que grandes empresas brasileiras, já tendo dominado o mercado interno, se internacionalizem. É o caso de Petrobras, Vale, Braskem, Marcopolo, Weg Motores e outras”, disse o ex-pmdebista, hoje sem filiação partidária.


Para Coutinho, no entanto, existe um pedaço do investimento que poderia estar sendo feito no Brasil, mas que segue para o exterior por causa da taxa de câmbio. Segundo o economista, novamente cotado para assumir um cargo no governo Lula – ele nega ter recebido convite -, setores como o automotivo, o de materiais elétricos e de bens de capital estão cortando planos de investimento em unidades para exportação e “se conformando” com o tamanho do mercado.


Também no primeiro ano do governo Lula, o Investimento Estrangeiro Direto (IED) somou US$ 59,651 bilhões – valor inferior aos US$ 76,454 bilhões que saíram em igual período através de remessas de lucros e dividendos e investimentos brasileiros no exterior. A entrada de capital estrangeiro no governo petista é quase a metade do IED do segundo mandato do governo tucano, que se beneficiou da privatização de empresas.


Para o economista-chefe da Fator Corretora, Vladimir Caramaschi do Vale, a conta de entrada de IED não seria menor que a conta de saída se o país estivesse crescendo. “Nós deveríamos estar absorvendo capital e não exportando. Ao contrário, fica esse ramerrame de crescer 3% em meio à valorização do câmbio”, disse, ao lembrar que a Grendene, uma das maiores empresas calçadistas do país, fechou a fábrica no Brasil e abriu na China.


E, segundo Benjamin, boa parte do IED é dinheiro de brasileiros em paraísos fiscais. “As Ilhas Cayman são os maiores investidores do Brasil”, afirmou. O economista não acredita que tenha havido algum investimento estrangeiro “relevante” no Brasil recentemente, a não ser em setores como de minério de ferro e papel e celulose. “A posição natural do Brasil seria de importador de capital. Como não é isso o que vemos, algo de muito errado está acontecendo”.


Benjamin não espera por grandes mudanças daqui para frente. “Temo que a reeleição tenha dado ao Lula a sensação de que está tudo bem. A situação da economia brasileira vis-à-vis à do restante do mundo é de clara decadência. Não há oportunidades de investimentos e por isso ela começa a perder capital”, disse. Tanto Benjamin, quanto Rabello de Castro avaliam que o governo Lula tem conseguido equilibrar essas contas fazendo basicamente saldo comercial com soja e minério de ferro. São as commodites, disse Rabello de Castro, fazendo o papel das privatizações da era FHC.


 

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