A falta de perspectiva de mudanças na política cambial e a ameaça de desaceleração da economia mundial deverão afetar o saldo da balança comercial brasileira em 2007. No último relatório Focus do Banco Central, as expectativas de mercado eram de superávit de US$ 38,05 bilhões no ano, queda de 15,4% em relação aos US$ 45 bilhões esperados para 2006.
A falta de perspectiva de mudanças na política cambial e a ameaça de desaceleração da economia mundial deverão afetar o saldo da balança comercial brasileira em 2007. No último relatório Focus do Banco Central, as expectativas de mercado eram de superávit de US$ 38,05 bilhões no ano, queda de 15,4% em relação aos US$ 45 bilhões esperados para 2006. Com a redução do ritmo de crescimento das exportações e o aumento expressivo do volume de importações, o comércio exterior brasileiro fechará seu primeiro ano sem resultado recorde desde 2001, quando voltou a ter superávit na balança comercial.
A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) trabalha com perspectiva de crescimento de 1% nas exportações e de 11,3% nas importações, levando a uma redução de quase 20% no saldo comercial em 2007. A instituição projeta superávit de US$ 36,130 bilhões para a balança brasileira. Os produtos básicos – commodities metálicas e agrícolas – serão os principais responsáveis pelo pequeno aumento das vendas externas.
A previsão da AEB é de alta de 4,1% na receita de exportação desses produtos, estimada em US$ 41,760 bilhões, o que confirma a dependência brasileira da evolução de preços dos produtos primários. Os destaques são o minério de ferro e o complexo soja, cujas exportações devem bater a casa dos US$ 10 bilhões, recorde histórico.
Já as exportações de produtos industrializados terão desempenho negativo de 0,2%, prejudicadas pelo câmbio. Ao mesmo tempo o real valorizado continuará estimulando o crescimento das importações, que, segundo a AEB, devem atingir um valor de US$ 101,890 bilhões, frente a um total de US$ 91,540 bilhões estimados para 2006.
política cambial. O vice-presidente executivo da instituição, José Augusto de Castro, não vê perspectiva de mudança na política cambial do governo no sentido de mudar esse quadro, com taxa de câmbio em teto de R$ 2,30 em 2007. “A prioridade do governo ainda parece ser a inflação e a atual taxa de câmbio é um fator de contenção da mesma”, diz o especialista em comércio exterior. O melhor desempenho das importações significará uma contribuição negativa de um ponto percentual do setor externo para o PIB em 2007, a segunda consecutiva.
A MCM consultores observa que, apesar das projeções menos otimistas para 2007, o mercado tem revisto para cima a expectativa de superávit comercial, que passou de US$ 36 bilhões a US$ 38,05 bilhões em apenas um mês. Na avaliação da consultoria, a mudança decorre de fatores como a não verificação prática da deterioração dos termos de troca (preços de exportação/importação) apontada no último World Economic Outlook, relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI). Para a consultoria, o crescimento do quantum das exportações deverá manter expansão moderada, embora em desaceleração. Já a aceleração das importações continuará acontecendo dentro do que classifica como uma “zona de normalidade”.
A consultoria leva em conta uma perspectiva de repetição das tendências recentes das quantidades exportadas e importadas, bem como dos preços. A média tem sido de alta de 3,24% nos preços de exportação e queda de 0,74% nos preços de importação, o que não deve mudar muito em 2007 na avaliação da MCM. Em relação ao quantum, a variação em 12 meses projeta aumento de 5% do volume exportado e 17% do importado.
Com base nesse cenário, a MCM deve revisar de US$ 35 bilhões para US$ 37,76 bilhões a projeção do saldo em 2007, com exportações de US$ 148,6 bilhões e importações de US$ 110,85 bilhões. “O saldo não cairá abruptamente porque nossas exportações continuarão favorecidas pelo lado do preço, enquanto as importações crescem pelo quantum, estimuladas pelo câmbio apreciado e o crescimento da economia, ainda que fraco”, diz o economista da MCM Consultores, Alexandre Antunes.
vulnerabilidade. Antunes destaca que está havendo uma reversão do fator de impulso às exportações do País. Até 2004 as exportações eram puxadas mais pelo crescimento do quantum que pelos preços. Em 2003, por exemplo, houve alta de 15,7% no volume exportado, contra 4,7% dos preços. Em 2006, a expectativa é de alta de apenas 4% do quantum e elevação de 11,5% dos preços. Já para as importações, a situação é exatamente inversa. “O desempenho do comércio exterior brasileiro está calcado nas relações de troca, já que os preços sustentam as exportações. Isso torna o País mais vulnerável à situação econômica global”, observa.
Superando a estimativa de mercado, a Austin Rating projeta saldo de US$ 41,5 bilhões para a balança comercial em 2007. Esse será o resultado de um crescimento de 4,5% das exportações e 10,5% das importações, que chegariam à casa dos US$ 143 bilhões e US$ 101,5 bilhões respectivamente. A agência de classificação de risco considera que isso, apesar de não ser um cenário tão “farto” para o comércio exterior brasileiro, não chega a comprometer o ajuste das contas externas.
“O resultado ainda será significativo apesar do recuo em relação ao ano passado. A redução do ritmo de crescimento das exportações já era esperada desde 2006 e agora deve se confirmar frente à desaceleração da atividade econômica nos EUA, que representa aproximadamente 20% da pauta de exportação brasileira”, avalia o economista-chefe da Austin, Alex Agostini.
Mesmo prevendo superávit recorde de US$ 44,930 bilhões para 2006, a Austin destacava a forte perda de competitividade, dinamismo e rentabilidade nos setores exportadores por conta da valorização da moeda nacional frente ao dólar. Em relatório aponta que “boa parte do desempenho positivo do comércio exterior decorreu do aumento dos preços de algumas commodities que, por sua vez, foi devido ao crescimento mundial e dos principais parceiros comerciais do Brasil em níveis favoráveis”, o que pode não se repetir em 2007.
O economista acredita que além do câmbio mantido em um patamar estável em relação a 2006 – a Austin trabalha com taxa média de R$ 2,25 – o estímulo às importações virá também do aumento do consumo doméstico. “A recuperação da renda e o estímulo do governo à compra de bens duráveis via crédito serão cruciais”, diz. Ele espera ainda alguma recuperação no investimento, de 20% para 21% do PIB em 2007, o que teria reflexos nas importações de bens de capital.