Folha de São Paulo
Editoria: Dinheiro Página: A-3
O volume de vendas do comércio varejista teve um aumento de 7,9% no primeiro trimestre deste ano, no comparativo com o mesmo período de 2006.
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Editoria: Dinheiro Página: A-3
O volume de vendas do comércio varejista teve um aumento de 7,9% no primeiro trimestre deste ano, no comparativo com o mesmo período de 2006. O crescimento nacional foi registrado pelo Indicador Serasa de Atividade do Comércio, que foi lançado ontem e será divulgado mensalmente.
Considerando a série desde o ano 2000 analisada pela Serasa, a alta é a maior desde o primeiro trimestre de 2004, quando houve aumento de 8,5% com relação ao ano anterior.
Mas, como 2003 foi um ano de freada econômica, ocasionada pela desconfiança dos mercados em relação à eleição do presidente Lula, com uma base de comparação muito baixa, o crescimento em 2007 é mais significativo. No mês de março, o aumento foi de 6,8% contra o mesmo mês de 2006.
A expansão das vendas no varejo foi causada pela maior oferta de crédito ao consumidor, a redução nos juros, a recuperação da renda real do trabalhador e a importação de bens de consumo impulsionada pela desvalorização do dólar.
Para Luiz Alberto Rabi, assessor econômico da Serasa, esse crescimento deve se manter nos próximos meses, mas tende a ser menor no decorrer do ano. “No segundo semestre, a base de comparação vai ficar mais forte” explicou.
O indicador dividiu as vendas em dois segmentos. No varejo especializado, que inclui veículos e material de construção, por exemplo, o crescimento foi de 10,2% no primeiro trimestre. Nos supermercados, hipermercados e varejo de alimentos e bebidas (mercearias, açougues, quitandas, distribuidoras), a alta foi de 5,6%.
Considerando o acumulado dos últimos 12 meses, a variação na atividade comercial foi de 6,9%, e o desempenho se inverteu. O volume de vendas dos supermercados foi maior (7,9%) do que o do varejo especializado (5,5%).
O economista-chefe da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), Marcel Solimeo, acrescentou outros motivos para alavancar as vendas, como o aumento menor das tarifas públicas, como água e luz, devido à inflação baixa, o que fez sobrar mais dinheiro no bolso do consumidor no final do mês.
Quando isso acontece, o trabalhador tende a satisfazer as necessidades imediatas, com alimentação e vestuário. Se a situação perdura, começa a comprar bens duráveis, como veículos, que se beneficiam com a facilidade de financiamento.
Na semana passada, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos) divulgou que março foi o melhor mês em produção da história da indústria, com as vendas aquecidas pelo mercado interno.
Outro segmento beneficiado pela ampliação do crédito é o de material de construção, com vendas para as construtoras e para a população, que aproveita o aumento da renda e a confiança na continuidade do emprego para reformar. A Data Popular Pesquisa & Consultoria divulga amanhã estudo sobre o comércio de materiais de construção para a baixa renda, apontando que 68% dos gastos com moradia das classes C, D e E estão relacionados à reforma.
Fábio Pina, assessor econômico da Fecomercio SP, alerta para o perigo do endividamento do consumidor, que seria uma conseqüência natural do aumento da oferta de crédito e resultaria numa freada nas vendas. “Mas é muito difícil prever quando isso vai acontecer”, disse, acrescentando que esse momento vai depender do ritmo de crescimento do país.
Indústria de SP tem expansão de 2,3% e puxa produção do setor
A produção da indústria brasileira cresceu em 7 dos 14 locais pesquisados pelo IBGE em fevereiro, com destaque para o desempenho do Estado de SP -alta de 2,3% na comparação livre de efeitos sazonais com janeiro. Com peso de cerca de 40% da indústria nacional, deu o principal impulso ao crescimento de 0,3% do setor fabril de janeiro para fevereiro.
Os dados mostram concentração do crescimento em poucos locais em fevereiro. Prova disso é que, em janeiro, 7 dos 14 ramos também registraram expansão, mas, na média, a indústria caiu 0,4%. “SP teve impacto determinante para o resultado geral da indústria por causa de sua importância na estrutura industrial do país e da magnitude do crescimento em janeiro”, disse André Macedo, economista da coordenação de Indústria do IBGE.
Segundo o instituto, a indústria paulista se recuperou do tombo de janeiro (-0,9%) por causa da normalização do processamento de petróleo nas refinarias do Estado, afetadas naquele mês por paralisações não-programadas. Outros ramos, como máquinas e equipamentos, informática e material eletrônico, também registraram forte expansão em fevereiro e ajudaram a produção da indústria de SP a crescer 3,5% em relação a fevereiro de 2006. No acumulado de janeiro e fevereiro, o avanço foi de 3,3%.
Para o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), “a indústria de SP mostra-se em ascensão”, numa “clara sinalização de aceleração” que, se mantida, torna “perfeitamente possível que a indústria paulista termine o ano com um crescimento maior do que os 3,2% de 2006”.
Também tiveram desempenho acima da média nacional na comparação com janeiro Ceará (3,8%), Paraná (2,6%), Rio Grande do Sul (2%), Santa Catarina (1,1%), Espírito Santo (1,3%) e Pernambuco (0,6%).
Como em SP, a recuperação do refino de petróleo alavancou o resultado das indústrias cearense e gaúcha, segundo Macedo. No RS e no PR, diz, a reação de atividades ligadas à agropecuária, como a indústria de alimentos e de máquinas e equipamentos (especialmente as agrícolas), assegurou o dinamismo do setor industrial. A indústria fluminense trouxe a principal contribuição negativa para o resultado geral da indústria. Prejudicada por férias coletivas de grandes empresas do setor farmacêutico, teve queda de 5,4% ante janeiro.
Desemprego é maior motivo para calote, aponta pesquisa da ACSP
Mudou o perfil do inadimplente de dez anos para cá: hoje, o calote é mais explicado pelo desemprego, as mulheres têm participação maior no total de inadimplentes e cresceu o percentual de maus pagadores mais velhos, entre 31 e 40 anos.
É o que mostra uma pesquisa divulgada pela ACSP (Associação Comercial de São Paulo), que é realizada pela entidade duas vezes por ano, em parceria com o Instituto de Economia Gastão Vidigal, desde 1997.
Os entrevistados são consumidores que comparecem ao balcão de atendimento do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito) por estarem no cadastro de inadimplentes.
Hoje, mostram os dados, 53% dessas pessoas apontam o fato de terem ficado desempregados como a motivação para a inadimplência. Há dez anos, esse motivo era apontado por cerca de 37% dos entrevistados.
“O desemprego tem atrapalhado o consumo, e esse é um problema sério para o comércio”, diz Alencar Burti, presidente da ACSP. “A situação do emprego piorou nos últimos dez anos. O desemprego se estabilizou, mas em um patamar alto”, avalia Marcel Solimeo, economista da associação.
Por outro lado, aponta Solimeo, o consumidor está mais responsável: em 1997, 22% dos entrevistados apontavam o descontrole nos gastos como motivo para o calote. Esse percentual caiu para 10% hoje.
Ao mesmo tempo, aumentou a quantidade de pessoas que caem na inadimplência porque “emprestam o nome” para algum familiar ou amigo.
Esse motivo nem aparecia há dez anos na pesquisa, mas agora explica 14% da inadimplência, segundo as entrevistas feitas. “Cresceu a quantidade de gente que perdeu acesso ao crédito e tem a solidariedade das pessoas de emprestarem o nome umas para as outras”, diz Solimeo.
Outra mudança observada é o crescimento da participação das mulheres entre os inadimplentes, quando se comparam os dados de 1997 e 2007. Há dez anos, as mulheres eram 28% dos mau pagadores.
O percentual cresceu para 43% em 2002 e recuou neste ano, mas ainda se mantém em um patamar elevado: 38%. O aumento reflete a entrada feminina no mercado de trabalho e no mundo do consumo.
Subiu também a participação dos mais velhos entre os maus pagadores: a faixa entre 21 e 30 anos caiu de 42% para 25%.